111 milhões de euros, 14 obras, 600 eventos e pelo menos os 158 mil residentes em Guimarães darão corpo à Capital Europeia da Cultura. Com ela, a cidade que partiu à conquista de Portugal espera projectar-se pela Europa e mais além. A aventura começa este sábado.
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Logo à noite, no Toural ou no Multiusos, o corpo e a alma dos responsáveis pela Capital Europeia da Cultura (CEC) estarão na celebração inaugural - mas as cabeças, essa, estarão em 2013. Sustentabilidade é o alfa e o ómega do pensamento de António Magalhães, a presidir há 22 anos à Câmara de Guimarães. "Construir e reabilitar é fácil quando há financiamentos comunitários. O importante é dar sustentabilidade ao que estamos a criar", diz. São 14 as intervenções urbanas em curso, discretas na sua escala. "Só há património que perdure se for usado. Não investimos em grandes equipamentos culturais porque a sua manutenção para lá de 2012 seria difícil", explica João Serra, presidente da Fundação Cidade de Guimarães (FCG), criada para elaborar e promover o programa cultural da CEC e que se extinguirá em 2015.
Realismo e bom senso é a receita partilhada por Serra e Magalhães, aplicada de igual modo à programação cultural e à reabilitação urbana, numa consonância rara e inexistente até meados deste ano, visível no litígio entre a Câmara - e muitos vimaranenses - e a FCG, então presidida por Cristina Azevedo, que culminou com o autarca a retirar-lhe a confiança, decretando a sua saída do projecto e a ascensão de Serra ao lugar.
Os ânimos serenaram, e operou-se a reconcliação dessa urbe cujos cidadãos lhe votam uma paixão radical com a FCG, a qual dispensou do programa "um concerto da Filarmónica de Berlim, que causaria grande alvoroço, mas custaria 700 mil euros num orçamento que, para um ano de música, é de três milhões", diz Serra. Em vez de investir no espectacular, mas efêmero, de que nada mais restará senão a memória de um momento gratificante, a CEC apostou antes em acções de escala mais reduzida - são 600 eventos ao longo do ano - mas formativa e disseminada: é paradigmática a orquestra temporária (dissolve-se no fim de 2012), constituída por 59 jovens (dos quais 30 portugueses, na maioria nortenhos), com idade média de 25 anos, que actuará nas freguesias e com as bandas nativas, ajudando à formação delas e dos ainda mais jovens músicos de duas orquestras locais - uma sub 14 e outra sub 21.
Outros exemplos da filosofia incubadora são as residências artísticas e os laboratórios de experimentação, antecâmaras do projeto CAMPURBIS, partilhado entre a maior instituição da região, a Universidade do Minho (UM), a FCG e a Câmara local. Aquele visa a implantação do Instituto de Design, do Centro Avançado de Formação Pós-Graduada e do Centro de Ciência Viva, em Couros, e a criação de novos cursos de Ensino Superior, levando, segundo o reitor da UM, António Cunha, "a universidade para o centro da cidade". Não se coibe Cunha de afirmar, até, que o projecto será "paradigmático no quadro do ensino em Portugal".
Há ainda outro aspecto a capitalizar no futuro, mas que já começou a dar frutos: a projecção internacional da marca Guimarães. "O que estamos a comunicar é Guimarães, cidade que se oferece aos visitantes e vai tirar partido da energia dos seus cidadãos, aproveitando este momento especial de síntese para reforçar o aparelho cultural da região", diz Serra. O objectivo de alcançar os 1,5 milhões de visitantes só este ano, anunciado a determinada altura por Cristina Azevedo, teve ajuda substancial de um dos mais influentes jornais do mundo, o New York Times, que classificou Guimarães como um dos 10 destinos turísticos mais aconselháveis do momento. E, esse, é de festa. Começa hoje, pelas 18 horas, e toda a gente faz parte.