Banda de Belo Horizonte assinala 25 anos do primeiro álbum com concerto este domingo à noite no Campo Pequeno, em Lisboa, e segunda-feira no Altice Forum Braga.
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"Nossas primeiras influências são o rock e a música popular brasileira, logo depois veio o interesse pela música negra e no caminho fomos pegando o som de outros géneros, como o hip-hop, a eletrónica ou o reggae e misturamos essa porra toda." É assim, cruamente, que Rogério Flausino faz o resumo da evolução musical dos Jota Quest, banda nascida em Belo Horizonte, no Brasil, que assinala 25 anos sobre o lançamento do primeiro álbum com dois concertos em Portugal: atuam hoje no Campo Pequeno, em Lisboa, e amanhã no Altice Forum Braga.
Todo o processo de celebração foi afetado - adivinhe-se - pela pandemia, que obrigou a adiar os concertos previstos para os dois últimos anos e também a grande festa que se preparava, à imagem daquela com que assinalaram os seus 15 anos de carreira, em 2011, e que durou mais de cinco horas - será feita com pompa e estardalhaço ainda este ano. "Todo esse protelamento só nos dá ainda mais vontade de chegar no palco. Somos brasileiros e este é um país de festa, sofremos para caramba", desabafa o vocalista dos Jota Quest.
Para compensar o tempo perdido e libertar a energia acumulada, Rogério promete uma maratona de mais de duas horas onde correm cerca de 25 temas - os principais clássicos de uma discografia que se estende de "Jota Quest" (1996) a "Pancadélico" (2015), como "Na moral", "Vem andar comigo", "Tempos modernos" ou "De volta ao planeta", e ainda alguns inéditos do novo álbum que irão lançar em maio. Será um oscilar de ritmos e temperaturas, onde cabem mensagens políticas, apelos à dança e baladas introspetivas, como "Dias melhores", que o cantor considera o hino dos Jota Quest, canção que "fortalece as perspetivas sobre o futuro". Flausino recorre à metáfora futebolística para antecipar o que serão os concertos: "Vai haver passes longos, dribles, bola no chão e tiro ao goleiro".
Ânsia de atacar o palco
Todas estas variações serão geridas por uma banda adulta, com larga experiência na combinação de géneros: "Temos a mesma formação de sempre, mas outra maturidade. Avançamos com música negra, vamos a uma parada mais rock, acalmamos, pulamos, depois fica black de novo". Uma diversidade refletida nos discos, cujo som evolui das guitarras mais crispadas dos primeiros álbuns à bonomia das versões de "Acústico Jota Quest" (2017), passando por "Funky funky boom boom" (2013), o mais negro da discografia, que contou com a assinatura de Nile Rogers, guitarrista e produtor americano que trabalhou em simultâneo com os brasileiros e os Daft Punk na produção do mega hit "Get lucky".
Falando com Flausino, que despeja entusiasmo em cada frase, notando-se a ânsia de atacar o palco, e somando a própria sede do público pelos espetáculos ao vivo, talvez estes concertos assinalem uma viragem para um tempo diferente, já quase esquecido, em que a música era comunhão, esperança e alegria. Os Jota Quest prometem cortar a fita para esse novo tempo.
Reconstruir os laços com Portugal
"Estamos a reconstruir o posicionamento do Jota Quest em Portugal", diz Rogério Flausino, no que parece um discurso de marketing estratégico. Mas é sobretudo de saudades que fala. A banda apresentou o projeto acústico em Portugal em 2018, com concertos no Campo Pequeno, em Lisboa, e no Coliseu do Porto. Mas antes disso tinha passado "uma eternidade", desde 2006, quando os brasileiros atuaram no Rock in Rio Lisboa. "Não podemos ficar tanto tempo sem voltar", diz Flausino, que é apreciador de bandas portuguesas como Expensive Soul.