Sobressai na frente ribeirinha e vai mudar não só o olhar sobre a paisagem do coração do Porto, como a experiência em relação àquele que é o principal símbolo da cidade. O novo Museu do Vinho do Porto, com assinatura do arquiteto Camilo Rebelo, é inaugurado esta terça-feira.
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A fachada do edifício de seis pisos tem cor de exceção: o negro que preserva e engrandece a natureza do vinho do Porto. "Os museus já não podem ser uma realidade estática, têm de oferecer experiências sensoriais", explica ao JN o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, para justificar o conceito de um espaço que disponibilizará para degustação mais de 700 rótulos de várias origens e que, propositadamente, quis situar no antigo Muro dos Bacalhoeiros, na Ribeira.
"É o lugar que as pessoas associam ao vinho do Porto e oferece uma vista privilegiada sobre as caves de Gaia."
Acresce, lembra o autarca, que aquele edifício municipal, que durante mais de duas décadas foi morada do Centro Regional de Artes Tradicionais, "é quase o último resistente". Rui Moreira, que travou a venda do imóvel, defende a importância de manter "a presença pública e cultural num Centro Histórico que se foi transformando num espaço privado".
O novo Museu do Vinho do Porto aloja vinhos, segredos e especificidades que são a marca de água do arquiteto Camilo Rebelo. Como a numerologia.
O ano de 1756, data em que o Marquês do Pombal declarou demarcada e controlada a região do Douro, surge "gravado de forma codificada" na garrafeira, revela Camilo Rebelo.
"Decompusemos o número: 1 e 7 dá 8; 5 e 6 dá 11. Todas as medidas usadas são múltiplos de 8 e de 11. A memória da data guarda, assim, um segredo. Como o vinho do Porto".
A própria garrafeira, uma simbólica parede de betão construída "no espaço mais nobre do edifício, junto à muralha", remete para um imaginário icónico. Para o Coliseu Moderno de Roma. As garrafas serão colocadas em "alvéolos que parecem santuários".
É uma forma, diz Camilo Rebelo, "de preservar a memória e, ao mesmo tempo, de santificar o vinho".
Raro nos museus, este compreende duas entradas: pelo n.º 37 da Rua da Reboleira, a experiência museológica; pelo n.º 138 do Muro dos Bacalhoeiros, a experiência vínica. "É uma corrente de ar que faz desta estrutura viva, simultaneamente, um lugar sagrado, de ritual, e um espaço público, de passagem".
A ideia é que o Museu "possa ser algo do dia-a-dia e não só um objeto de desejo". Debruçado sobre o rio Douro, é também o lugar em que será possível beber uma história com mais de 250 anos.