Estreia esta quinta-feira “O meu bolo favorito”, filme de dois realizadores iranianos que estão proibidos de sair do seu país.
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Pode o cinema mudar o mundo? É uma questão que se coloca com frequência a cineastas empenhados politica e socialmente. Se a resposta não é muito positiva, passadas as épocas mais românticas, pelo menos há uma tese unânime: o cinema pode contribuir para mudar mentalidades.
Se é inegável que uma longa lista de filmes teve impacto na queda do regime desumano do apartheid sul-africano, por que não ter a esperança que os filmes iranianos o possam fazer relativamente ao regime que dirige o país e não respeita direitos humanos nem mulheres?
Vem esta questão a propósito da estreia de “O meu bolo favorito”, da dupla Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha, cineastas que viram o seu filme banido no seu próprio país e os seus passaportes retidos, impedindo-os desde logo de viajar para o Festival de Berlim, onde o drama teve a sua estreia mundial.
A dupla de realizadores já abanara o regime com “O perdão”, sobre uma mulher que descobre que o marido era inocente no crime que o levou a ser executado. Agora, propõe-nos a história de uma mulher de 70 anos solitária após a morte do marido e que decide levar para casa um taxista da mesma idade também ele a viver sozinho.
Num país onde não se podem provar todos os bolos, os realizadores foram acusados de incitamento à prostituição! Numa cena deste corajoso desafio ao regime, a protagonista decide salvar uma jovem que ia ser presa pela polícia moral por posto mal o seu hijabe, deixando ver mais cabelo do que o permitido!
O filme, rodado pouco depois dos protestos que assolaram o Irão após a morte da jovem Mahsa Amini, quando se encontrava presa pelos mesmos motivos, é também um dos primeiros a mostrar uma mulher sem o lenço na cabeça, mesmo dentro de casa, depois do regime islâmico implantado em 1979.
Ver este filme, compreender a sua realidade, é um ato cívico e de instrução.