No momento em que se celebra o dia da Família, esta quinta, 15 de maio, fomos saber os temas que os jovens gostavam que mães e pais debatessem mais vezes com os filhos. Já não é só sobre a intimidade e as redes sociais que eles querem conversar, pedem tempo e espaço para emoções, futuro, estilo e até divisão de tarefas
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“Se os pais perguntassem mais vezes ‘como foi o teu dia hoje?’ acho que motivavam mais os filhos em contexto da escola e ajudavam na resolução de problemas e no aproveitamento escolar.” A pergunta é simples e para Gonçalo, de 17 anos, este é um tema que deveria fazer sentar pais e filhos a um mesmo momento.
No dia em que se evoca a Família, esta quinta-feira, 15 de maio, filhos pedem aos pais mais atenção aos detalhes, mais conversas sobre futuro, maior presença e abertura para falar de emoções. Em conversas com a Delas.pt com cerca de uma dezena de jovens entre os 15 e os 18 anos, quase todos reconheceram os perigos das redes sociais e da internet e sentem que têm sido bastante avisados pelos progenitores. Já uma parte crê que as matérias de sexualidade e saúde intima que se tratam na escola deveriam ter mais eco em casa.
Internet e redes sociais: responsabilizar e construir relação com os filhos
Quase a completar 16 anos, Luadi Quaresma sente que o tema dos telemóveis e das redes sociais é prioritário, mas sublinha que proibir não é o caminho. “Os pais deviam ter o cuidado de informar os filhos dos perigos, tentar mantê-los o mais seguros possível e distantes de algum agressor sexual online que apareça”, refere esta aluna, que vinca a necessidade de os menores terem o espaço e a coragem “para avisar os pais”, caso algo aconteça. E acrescenta: “Essa coisa de proibir totalmente também não é muito saudável, porque automaticamente desliga o filho do mundo, impede-o de falar com os seus amigos e isso não é bom nessa fase.” O caminho, considera esta adolescente, passa por “tentar construir uma relação com o filho de maneira a que ele, voluntariamente, vá diretamente contar aos pais caso algo esteja a correr mal”.
Ter acesso com responsabilidade e vigilância tem sido um ponto positivo para Ariana, de 16 anos. Conta que recebeu o primeiro telemóvel aos dez anos, entrou nas redes cerca de três anos depois e que tem tido seis anos de alertas permanentes. ”No início, a minha mãe nunca me deixou ter amigos virtuais porque sempre teve medo que os perigos acontecessem e sempre contou histórias. Havia barreiras, controlos parentais, mas os meus pais nunca mexeram no meu telemóvel, sempre deixaram bem claro o que podia e não podia fazer”.
Milla, de 15 anos, sente que a “prevenção” deixou boas marcas. “O facto de a minha mãe falar comigo sobre isso e de explicar os perigos de certas coisas acontecerem fez com que eu nunca tivesse essa vontade de falar com estranhos na Internet, por exemplo, mas também sempre me disse que se algum dia visse que estava a fazer algo errado, ficaria sem o telemóvel”.
Aos 18 anos, Leonor Alves diz que “foi bastante importante” para ela ter diáologos com os pais sobre redes sociais. “Quando houve esta conversa foram impostos sempre alguns limites e regras para que esse acesso às redes sociais não fosse total”, acrescenta, exemplificando: “no Instagram, existiu sempre o cuidado de me dizerem para ter a conta privada, houve também a conversa de que nem tudo é bom, e eu sinto, hoje em dia, uso as redes sociais de uma maneira muito mais segura, consigo distinguir as consequências e identificar os perigos das redes sociais, sejam elas positivas ou negativas.”
Sexo, intimidade e higiene íntima
Os temas da sexualidade tratados na escola têm sido debatidos, e em alguns casos, envolvidos em polémica, levando até ao debate em torno dos currículos das aulas de cidadania. Pois bem, todos os jovens que abordaram o tema deixam claro que o que é falado no espaço escolar é pouco e podia ser mais. Os adolescentes sentem que as matérias deveriam ser mais aprofundadas e que deveriam chegar também a casa.
“É sempre necessário falar sobre a sexualidade, mas também nas questões da higiene íntima e como é que devemos cuidar de nós mesmas, temas que devem incluir raparigas, mas também acho que deve envolver os rapazes”, pede Milla. Para esta jovem de 15 anos, “os pais deviam falar mais abertamente sobre isso”. “Na escola falamos, mas em casa ainda é um assunto um pouco de tabu. Acho que, partindo da família e de casa seria um assunto mais fácil para abordar tanto para os alunos como para os professores”, considera.
Luadi sente mesmo a urgência do tema: “Gostaria que os pais fossem mais abertos a conversas sobre relações sexuais, sobre a saúde íntima, já que no mundo de hoje, embora não seja possível impedir que os adolescentes façam, seria mais fácil prevenir doenças e até mesmo em casos mais graves como gravidezes indesejada.”
Frederico, de 17 anos, aborda a importância da sexualidade, mas abre espaço para outras matérias. “Acho que se devia falar mais de emoções com os rapazes e com as raparigas quando, por exemplo, estão mal. Mas acho elas falam mais sobre isto”.
Para Leonor Alves, não se trata apenas das emoções românticas. Esta jovem de 18 anos destaca também as novas e com as quais os jovens se sentem confrontados. ”Falo, por exemplo, sobre a ansiedade, a ansiedade social, a claustrofobia”, enumera. “Estas emoções já existiam nas gerações dos nossos pais, mas não lhes era dada nenhuma importância, e as pessoas também não sabiam o nome das coisas, o que faz com que seja difícil para eles, hoje, abordarem estes temas”. Leonor recomenda, por isso, “mais abertura dos filhos para ajudar os pais nestas conversas”. “Temos de conseguir explicar o que sentimos para que eles também possam perceber e também evoluir”, afirma.
Futuro, trabalho e divisão das tarefas em casa
Entre expectativas de pais sobre o futuro dos filhos e os desejos e os caminhos que os menores querem para si, o futuro profissional é, muitas vezes, tema de tensão familiar. Talvez por isso, os adolescentes queiram este capítulo aberto em cima da mesa e reclamem para que sejam mais ouvidos. “Gostava que respeitassem mais as minhas decisões académicas e dessem mais abertura para falarmos sem julgamento sobre isso”, vinca Leonor C, de 16 anos. Rui Serra, com 15, também crê que esta matéria deveria ter maior presença nos diálogos entre pais e filhos, apontando a necessidade de abordar os resultados académicos e o futuro profissional.
Jéssica (nome fictício) também traz o trabalho para a discussão, mas um outro: o doméstico e a sua desigualdade. Aos 15 anos, esta jovem, a única rapariga de três irmãos, sente que “os pais tendem a querer ensinar às meninas, desde muito cedo, como cuidar da casa, enquanto os rapazes basicamente crescem a quererem brincar, a ficarem no quarto, trancados, a jogar. Uma “carga” grande que muitas vezes se alicerça na falta de exemplo. “Em bastantes famílias, o pai também fica no sofá, ver televisão, ver futebol e a mulher faz tudo, não consegue dar um bom exemplo aos rapazes”. Jessica pede, por isso, mudanças nesta matéria.
Estilo e respeito pela individualidade
A forma de expressão é também uma matéria sublinhada por estes adolescentes, sobretudo raparigas. Fazem ressaltar a questão da personalidade, da individualidade e dos gostos. “Às vezes sinto-me incompreendida em relação ao meu estilo e gostava que me dessem mais espaço, principalmente quando estou em casa, no meu quarto”, atira Leonor C.
Luadi Quaresma sente que, “apesar de se tratar de um tema aberto, podia ser mais”. “Muitos pais, por exemplo, não deixam os filhos pintar o cabelo, fazer piercings, até, por mais que seja um pouco exagerado, tatuagens”, lamenta. Para esta estudante, a adolescência é “uma fase” que devia acomodar a possibilidade “se experimentar mais “, “e muitos pais veem isso como um tabu”, conclui..