
Instalação performativa contra a violência contra as mulheres conta com o apoio de Catarina Furtado e Francisca Van Dunem
Foto: Carla Pires
Uma mulher enclausurada, atrás de grades transparentes e à vista de todos, em pleno coração de Lisboa quer deixar bem clara a vida de mulheres vítimas de violência doméstica. Uma ação do artista SELF que junta Catarina Furtado e a associação a que preside, a Corações Com Coroa, para evocar o dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Corpo do artigo
Em dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, que se assinala esta terça-feira, 25 de novembro, é tempo de protesto e de consciencialização para as agressões que as mulheres sofrem em contexto de intimidade e às mãos de companheiros e ex-parceiros.
O artista SELF, com o apoio da apresentadora Catarina Furtado e a associação Corações Com Coroa (CCC), faz "um grito de alerta" e explica a violência com uma instalação performativa de rua provocadora. Sentença Invisível, que pode ser visitada ao longo deste dia na Rua Garrett, em Lisboa, apresenta "uma mulher fechada numa jaula para chamar a atenção para a situação das mulheres vítimas de violência doméstica, que muitas vezes, mesmo depois de apresentarem queixa, continuam a ver-se obrigadas a conviver com o agressor na residência comum", refere o comunicado enviado às redações.
A iniciativa faz-se acompanhar de uma carta aberta e conta com a participação da presidente da CCC, Catarina Furtado, a magistrada jubilada e ex-ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e Andreia Catarino, filha de violência doméstica, que partilhou a urgência de uma mudança de paradigma que garanta verdadeira proteção às vítimas.

Uma chamada de atenção que chega após dias sucessivos de dados alarmantes em torno da violência que apontam para um crescimento exponencial nos meses mais recentes: 116 queixas por dia entre julho e setembro deste ano - um valor recorde -, dois agressores detidos pela PSP em flagrante delito também por dia desde o início do ano e mais de quatro novos violentadores por dia a integrarem o plano para agressores de violência doméstica.

Dados que se traduzem em vítimas mortais - o relatório preliminar do Observatório de Mulheres Assassinadas revelou esta semana que até 15 de novembro pelo menos 24 mulheres morreram em contexto de intimidade -, em denúncias e nas ajudas dadas pelas entidades vocacionadas. O número de vítimas femininas apoiadas pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima aumentou mais de 11% nos últimos três anos, a maioria (85%) por violência doméstica, contrariando a expectativa da associação de descida ou estabilidade destes valores.
Apesar de "Portugal ter feito 'progressos significativos' nos recentes anos na aplicação de medidas concretas de combate à violência contras as mulheres", a verdade é que "o poder judicial em Portugal aplica 'sanções brandas e desproporcionadas'", lê-se na nota de imprensa. E prossegue: "A conclusão é do grupo de peritos independentes do Conselho da Europa sobre a implementação da Convenção de Istambul (GREVIO), num relatório divulgado em maio deste ano, que recomenda, entre outras medidas, formação obrigatória e contínua nesta área para os magistrados e o reforço da resposta judicial com base numa perspetiva de género e centrada na segurança das vítimas."

