Quase seis em cada dez jovens acreditam que o amor verdadeiro supera insultos e desrespeito
Estudo com jovens portugueses revela como as ideias construídas em torno de um amor que normaliza o ciúme e o controlo estão a fomentar mitos que consolidam violência no namoro
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“O amor verdadeiro supera tudo – mesmo os insultos e o desrespeito”. Este mito é válido para 58% dos jovens portugueses que participaram no estudo que procura deslindar a forma como os mitos em torno do romance podem estar a normalizar a violência no namoro.
Na investigação Escala de Mitos do Amor Romântico (EMAR), que auscultou 165 pessoas, 83% delas mulheres, entre os 18 e os 30 anos, metade dos entrevistados (50%) considera que “amar é fazer tudo pela outra pessoa, mesmo à custa de si próprio” e mais de quatro em cada dez (42%) crê que existe uma “alma gémea” predestinada. "Estes mitos reforçam uma visão desequilibrada do amor, onde o sofrimento é romantizado e o abuso é tolerado”, considera a investigadora principal e professora da Faculdade Ciências Humanas da Universidade Católica. Susana Costa-Ramalho afirma, citada em comunicado, que é preciso, “urgentemente, educar os jovens para relações saudáveis, baseadas no respeito, na verdade, no entendimento e na cumplicidade, nunca na desigualdade”.
Nesta análise feita com diferentes investigadores da Ramon Llull University, em Barcelona, os rapazes revelam ter uma “maior aceitação de mitos como 'É preciso ter um(a) parceiro(a) para ser feliz' ou 'é aceitável perdoar insultos e violência (ou agressividade) se houver amor”, detalha a mesma nota enviada à comunicação social.
A investigação, publicada na revista internacional Social Sciences, conclui que “estes mitos não só persistem entre os jovens, como se associam a estereótipos de género e à aceitação da violência”.
Recorde-se que, de acordo com o Estudo Nacional ARTEMIS de 2024, da União de Mulheres Alternativa e Resposta, 64% dos rapazes justificam comportamentos de controlo numa relação, num valor superior ao que foi reportado pelas raparigas: 46.8%. Ainda segundo a mesma análise, 44% validavam a violência psicológica, 41% a violência sexual e 14% normalizam a violência física no namoro.