André Horta voltou esta época ao Braga e rapidamente reconquistou um lugar na equipa. Em entrevista ao JN, o futebolista, de 23 anos, dá conta da satisfação pelo convite do presidente António Salvador para regressar e fala dos objetivos pessoais e coletivos.
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Dezoito jogos, três golos, presença assídua no onze. Estava a contar com estes números quando decidiu voltar ao Braga?
Sim. Voltei para isso, para jogar, após uma época em que não tinha jogado tanto. Quando cheguei aos 10, 11 jogos, em um mês e meio, já tinha mais minutos, do que em todo o ano anterior. Queria reassumir um papel importante no clube. Os golos e as assistências surgem com naturalidade.
Aliás, três golos é um recorde...
Sim, já é a melhor época de sempre. Tenho também quatro assistências, é muito bom.
Já esteve aqui cedido pelo Benfica, agora tem contrato. Sente maiores responsabilidades?
Encaro da mesma maneira estar emprestado ou com contrato de longo prazo. Sou profissional e a minha função é dar o máximo pelo clube. Foi isso que tentei fazer quando cá estive e quando houve a oportunidade de voltar a Portugal, o Braga foi sempre a minha primeira escolha. Este ano estou a ter mais tempo de jogo e a assumir um papel importante. Tento demonstrar que mereço continuar a jogar.
Como é que encarou a desvinculação com o Benfica?
De forma natural. É um clube muito grande, os jogadores vão e vêm, fui mais um que passou lá, ajudei enquanto lá estive e depois tive de procurar outro caminho. Obviamente que fiquei um pouco triste, porque senti que no primeiro ano dei algumas coisas ao clube e as lesões não ajudaram. Felizmente tive a oportunidade de vir para o Braga, um clube que me acolheu de braços abertos, na altura era o míster Abel, mas já com muita força do presidente para me trazer.
Ter vínculo a um grande e sair é um passo atrás?
Depende. Neste caso foi um passo em frente. Se pesarmos as coisas, vemos o que é melhor: estar num grande e não jogar ou num clube bom onde estou e jogar? O Braga está muito perto de ser um grande, apresenta todas as condições e luta pelos primeiros lugares, mesmo não sendo aquele objetivo declarado. Não foi um passo atrás. Se calhar foi o melhor que me podia ter acontecido. Tal como na formação, ter saído do Benfica para o Vitória de Setúbal, foram dois passos em frente. Tornei-me profissional e voltei ao Benfica.
Acha que tinha lugar na atual equipa do Benfica?
Não quero responder.
O Braga não joga para o título, pelo menos abertamente...
O objetivo é ficar entre os quatro primeiros. Se a equipa tiver o quarto lugar garantido e assegurado a participação, na época seguinte, nas competições europeias, vemos até onde podemos ir. Mas não é uma obsessão. Queremos praticar bom futebol, desenvolver jogadores jovens e tentar fazer um campeonato regular. Tentar ser sempre a melhor equipa, a seguir aos três clubes grandes.
Fala em regularidade, mas a equipa tem sido irregular. Como explica isso?
Pois, temos sido um pouco irregulares, entre campeonato e Liga Europa. É algo que por vezes nós jogadores não conseguimos explicar bem. A atitude é a mesma e queremos ganhar em todos os jogos. Se calhar na Liga Europa temos jogado de forma diferente, assumindo menos o jogo. Também não temos tido aquela ponta de sorte, mas com o decorrer do tempo as coisas estão a melhorar. A sucessão de jogos, com pouco tempo de intervalo, às vezes pesa, mas não é desculpa, temos de estar preparados e há plantel para combater as dificuldades. Mas só dependemos de nós para chegarmos ao que queremos.
O presidente mostrou descontentamento e o Braga ganhou dois jogos seguidos. Foi coincidência ou a equipa precisava de um abanão?
Não. Foram dois jogos bem conseguidos. Tivemos outros do mesmo nível, mas que não ganhámos, por exemplo em Alvalade. Com o Marítimo apanhámos uma equipa de bloco baixo. O Vitória de Setúbal não quis atacar... No Bessa, marcaram aos cinco minutos e baixaram o bloco. Fico mais contente de jogar no Braga e ter uma ideia de jogo como a nossa, do que estar num destes três clubes. É impossível um profissional pensar que o futebol é isto. Duvido que os jogadores dessas equipas sejam felizes.
Não conhecia Sá Pinto, o que tem achado?
Tem corrido muito bem. Ajuda muito os jogadores e é positivo já ter jogado, percebe-nos bem. Tem ajudado a incutir coisas que se calhar nos faltava, com atitude e garra à imagem dele. É um motivador nato e normalmente tem as palavras certas, antes de cada jogo. A equipa está contente. Um pouco do sucesso também vem daí.
Na Liga Europa, em que falta um ponto para a equipa se apurar, onde poderá o Braga chegar?
Primeiro, ainda falta um ponto e temos dois jogos difíceis. Primeiro, o foco é a passagem.
O Braga tem tradições na Taça de Portugal... Espera ir à final?
Sim. Seria um sonho voltar ao Jamor. Já lá estive pelo Benfica e ganhei. O Braga já vive de títulos, são objetivos assumidos. E também na Taça da Liga.
Tem quatro troféus. Espera juntar mais já esta época?
Estou habituado a ganhar desde muito novo, é das coisas que me dão mais prazer. Se ganhar títulos pelo Braga, será a forma de retribuir tudo o que têm feito por mim.
E a seleção? É um objetivo?
É uma meta que quase todos os jogadores ambicionam. Quem estiver bem, é um objetivo natural. Temos de respeitar quem já lá está. Quem não está tem de trabalhar, tentar estar bem e esperar pela oportunidade.
Acha possível ir a curto prazo?
Tenho de continuar a trabalhar e depois se verá.
Tem contrato com o Braga até 2024. Acha que vai cumprir ou poderá ser transferido?
Não penso muito nisso, em andar a saltar, por aparecerem oportunidades. Quero continuar, para o ano tentar fazer ainda melhor. O jogador profissional não pode pensar muito nisso. De um momento para o outro, sei que as coisas mudam. O foco é o Braga e quero tentar fazer o melhor e agradecer ao clube tudo o que tem feito por mim.
Como é viver em Braga e de repente ir para Los Angeles?
É parecido (sorri). Foi uma diferença grande, mas não senti muito. Não mudei o estilo de vida. Gosto de estar em casa, tranquilo... O que fazia aqui, fazia lá. Aqui morava com o meu irmão, lá morava num condomínio com piscina, jacuzzi e ginásio 24 horas por dia. Tinha tudo em casa e um estilo de vida como tenho aqui. A única diferença é que lá, para me deslocar, demorava duas horas para fazer 30 quilómetros...
Foi enriquecedora a experiência nos Estados Unidos?
Sim, a vários níveis. Foi uma realidade diferente, com uma língua que ainda não dominava, com cultura e pessoas diferentes. Foi muito bom. Extrafutebol há todo um Mundo que se vive lá e é uma experiência que nos marca.
Muitas vezes diz-se que se vai mais pelo dinheiro e numa fase mais adiantada da carreira. Não foi o caso...
Sim e logo aí vê-se que não fui pelo dinheiro. Sentaram-se comigo, gostei da forma como me abordaram, o projeto era bom e fui com muita ilusão. Como o Braga de início não me deixou sair, cheguei a meio da época, a equipa estava bem, e foi difícil entrar no onze. Quando recomeçou a época, tive uma lesão muscular, parei um mês e vi o filme todo outra vez. Quando abriu o mercado, forcei a saída e aceitei o convite do Braga.
Admite voltar a emigrar?
Sim, mas não agora. Só se aparecer uma proposta para um campeonato inglês, espanhol, italiano ou alemão. Gosto de estar no Braga e em Portugal, tenho qualidade de vida, estou perto da família e dos amigos, com tudo o que preciso. Sinto-me bem, quero ter estabilidade e o Braga é o clube certo.
Em miúdo queria já jogar?
Gostava muito, mas não era uma obsessão. Nisso era diferente do meu irmão, que sempre quis ser jogador. Cheguei com sete anos ao Benfica, sabia que tinha aptidão para o futebol, mantive-me num nível alto, mesmo após ir para o Vitória de Setúbal.
Jogar com o irmão na equipa é uma vantagem?
Sim. Era algo que sempre quis. As coisas têm corrido bem, vê-se que temos química dentro e fora de campo.
Que semelhanças têm?
Somos diferentes! Tanto no feitio, como na personalidade! Costumam perguntar quem é o melhor, a resposta é... somos diferentes! Ele é mais rápido, mais finalizador, eu jogo noutra posição, se calhar tenho mais capacidade de passe e mais visão de jogo, ele movimenta-se melhor sem bola, é mais inteligente..
É natural de Almada. Mantém contacto com as raízes?
Claro, Moro na Charneca de Caparica, na casa dos meus pais. É um sítio de eleição. Nisso o meu irmão é igual a mim. Já comprou lá casa, eu também. Acho que é o melhor sítio para viver.
André Horta
Data de nascimento: 07/11/1996 (23 anos)
Nacionalidade: Portuguesa
Altura: 1, 74 metros
Peso: 66 kg
Clube: Sporting de Braga
Troféus: Campeonato nacional (1), Taça de Portugal (1), Supertaça (2)