O Hendon FC, da sétima divisão, oferece bilhetes para ajudar pessoas que lutem contra a solidão e problemas psicológicos.
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Dermot Drummy é uma lenda do Hendon FC. Mas o que se resumia bem com os mais de 350 jogos que disputou com a camisola deste modesto clube de Londres ganhou uma dimensão superior depois daquele dia chuvoso de novembro de 2017. Se o suicídio foi a solução para colocar um ponto final na depressão profunda que o depenava, a morte do ex-jogador inglês foi a razão para engordar o legado de Drummy.
Ganhar jogos, pois claro. Mas a existência na sétima divisão também é feita de outras prioridades. E nos últimos meses, o Hendon FC, um dos históricos da Non-League (campeonatos amadores), encontrou outra razão poderosa para resistir às dificuldades de quem quase não tem dinheiro para pagar a água e a luz no fim de cada mês: combater as estatísticas assustadoras de que, por ano, centenas de pessoas atentam contra a própria vida devido a problemas mentais.
Seja por depressão, seja por viver sozinho e sofrer com a solidão ou por padecer de qualquer outro transtorno psicológico, a vizinhança sabe que tem no Silver Jubilee Park um ponto de encontro para, pelo menos por um par de horas, fazer as pazes com a vida e teimar contra o sofrimento. Embora sem qualquer auxílio científico que dê força à iniciativa, as bancadas - ou algo parecido com isso - do estádio do clube são um dos pontos terapêuticos de Londres para gente, idosos na maioria, que vê a vida a preto e branco.
O Hendon FC é o primeiro clube inglês a oferecer bilhetes a qualquer pessoa com um dos problemas acima mencionados. E nem o facto de isso poder minimizar as receitas demoveu Simon Lawrence, o presidente, nas intenções de pegar na tragédia do amigo Dermot Drummy e ajudar outros na mesma situação: "Se for só um que seja, já valeu a pena fazer isto tudo", salientou o dirigente.
É por isto que nem só de pessoas saudáveis se faz a média de 300 espetadores que acompanham o Hendon nos jogos em casa. Alguns espairecem, antes de regressar à modorra. Se voltarem, já há quem esteja a ganhar, mesmo sem somar pontos na classificação. "Se formos lembrados não pelas taças que ganhamos ou pelos campeonato que conquistamos, mas por fazer alguma coisa boa pela saúde mental, de certeza que não ficaremos desapontados", salienta Lawrence, à BBC. E Dermot ficará feliz!