Regulador do mercado de capitais tem dúvidas quanto ao preço e aos conflitos de interesses.
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O regulador do mercado de capitais está há três meses a enviar perguntas ao Benfica SGPS que envolvem o presidente Luís Filipe Vieira e os acionistas visados pela Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada a 18 de novembro e que, até agora, não teve luz verde devido a dúvidas suscitadas relativas ao preço e a possíveis conflitos de interesses, apurou o JN.
As últimas trocas de informação entre a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e os envolvidos estão focadas na ligação empresarial entre Luís Filipe Vieira e o maior acionista privado da sociedade desportiva, José António dos Santos, que detém 12,7% da SAD.
Os dois empresários e respetivas cônjuges são sócios em imobiliárias - a Sul Crescente e a Palpites e Teorias -, com projetos para o Algarve e Lisboa, envolvendo vários milhões de investimento conforme noticiou o "Expresso". Nesse sentido, a CMVM pediu mais esclarecimentos antes de dar a autorização à operação.
As perguntas do regulador levaram a que José António dos Santos, dono do grupo Valouro, viesse anunciar que não só não está interessado em vender a sua participação no Benfica, como pretende reforçá-la. Em declarações ao jornal "Público", o empresário disse ter comprado, na segunda-feira, "largas centenas de milhares de euros" em ações da SAD, reforçando a sua participação, e reiterando que não tem intenção de vender na OPA por ser "um mau negócio" para si. Já Luís Filipe Vieira, em declarações ao "Expresso", disse não ver "nenhum conflito de interesses, mas certamente as entidades reguladoras competentes saberão responder e determinarão os termos legais em que a operação pode decorrer". Apesar de fonte oficial do regulador referir que "não comenta operações em análise", o JN sabe que, já antes, a CMVM levantou dúvidas sobre o preço oferecido na OPA.
Dúvidas no preço
O regulador quis saber em que se baseou o Benfica para lançar o preço de 5 euros por cada ação. Desde que a SAD entrou em Bolsa, em 2001, salvo raros picos, o valor tem sido bastante inferior. Uma semana antes do lançamento da oferta, cada título valia 2,78 euros. No dia seguinte ao anúncio do Benfica, o título disparou para lá dos 4 euros e tem vindo a aproximar-se do preço da OPA.
Fonte do Benfica disse ao JN que o preço "até está abaixo do real valor das ações do Benfica tendo em conta os critérios que são adotados por várias bolsas. Não é por acaso que José António dos Santos diz que não vende e que até compra".
Outro ponto em análise tem a ver com a questão de ser Luís Filipe Vieira, enquanto presidente do Benfica, a decidir o preço de oferta e beneficiar (ou não) disso quando abandonar a SAD. Fonte do Benfica refere que é um não assunto: "Sabe-se lá se quando Vieira sair, o preço não será maior do que os 5 euros oferecidos? Neste caso, perderia dinheiro".
Quando foi lançada a OPA, a expectativa do Benfica era que em janeiro a operação já estaria a decorrer, mas a própria presidente da CMVM, Gabriela Figueiredo Dias, explicava, também nesse mês, que "há ma série de dimensões [nesta OPA] que são muito específicas que não tem comparável, e é preciso obter toda a informação para que a decisão da CMVM seja robusta".
Valor das ações aproxima-se do preço da OPA
Atualmente, o Benfica SAD tem uma capitalização bolsista de 106 milhões de euros depois de na quarta-feira o título ter encerrado nos 4,64 euros, muito próximo do valor oferecido na Oferta Pública de Aquisição: 5 euros. Quando a OPA foi anunciada, este valor representava um prémio substancial face à cotação dos títulos da Benfica SAD, que estavam a ser transacionados, nos seis meses anteriores, à cotação média de 2,81 euros. A 18 de novembro do ano passado as ações valiam 2,76 euros, disparando para os 4,70 euros no dia seguinte.