O deputado Hélder Amaral confessa-se satisfeito com a racionalidade da política de contratações do Sporting e aponta o dedo à "mentalidade primária" que ainda resiste no desporto-rei.
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Satisfeito com os reforços já garantidos pelo Sporting?
Sim. Sobretudo satisfeito com a racionalidade. Parece-me que na época passada houve pouco critério no reforço da equipa. Desta vez, percebe-se que se está a proteger a formação - praticamente todos os jogadores que estavam emprestados regressaram - e que se têm contratado jogadores experientes e com linha competitiva diferente. Não se ganham títulos só com a formação e ir buscar jogadores na curva descendente, mas com grande cultura competitiva, é importante. Parecem-me ser os casos de Doumbia, Mathieu e Fábio Coentrão.
A contratação de Fábio Coentrão, ex-jogador do Benfica, tem um significado especial por isso?
Não. Isso é o que faz com que o nosso futebol ainda tenha coisas do Terceiro Mundo. Eu uso gravatas vermelhas, porque gosto, e já sei que se for fazer um comentário à Sporting TV com uma gravata vermelha me vêm dizer: "É pena a gravata..." Isto de a rivalidade chegar a estes pormenores é grave. Picardia sim, mas é preciso ultrapassar esta mentalidade primária de que se foi do Benfica não pode jogar no Sporting.
Com um investimento maior, vem também a diminuição da margem de erro. Isso pode ser um problema?
Sim. Esse tem sido um dos problemas. A chegada de um treinador campeão trouxe uma expectativa exagerada. Quando um clube não ganha nada há 14 anos, é porque tem problemas de estrutura graves. E acho que só na última época é que percebemos que tínhamos outros problemas, até em termos de cultura desportiva, que o Bruno [de Carvalho] tem tentado abanar. A pressão é natural, mas tem de ser racional. É também isso que precisamos de mudar, para podermos aproveitar a passagem do Jesus pelo Sporting.
Bruno de Carvalho dava um bom político?
Podia dar. Teria de adaptar a linguagem às circunstâncias, mas a frontalidade que tem era importante. Só que, na política, as figuras muito controversas ou têm uma grande presença de espírito ou rapidamente são excluídas.
A política é uma área em que a diplomacia é importante. Falta diplomacia no futebol português?
Falta perceber que é possível ter rivalidade sem a elevar a um nível de agressividade que roça o ódio. Tal como na política, deveria haver uma ética de respeito pelos outros que não pode ser ultrapassada. Mas o futebol acaba por ser mais sincero. Na política, há muito a cultura de não se dizer o que pensa.
E como olha para o caso dos emails?
Com bastante preocupação. Se há sinais que denotam que há um clube a beneficiar do colinho, de um conjunto de favores, de leituras benignas que favorecem sempre o mesmo, desde logo estamos perante um problema de falta de verdade desportiva. E esse é um dano irreversível na imagem de um país campeão europeu. Pela ramificação e pelos setores que afeta, é o caso mais grave do futebol português. Mas também pode ser um ponto zero para encontrar mecanismos de defesa.