José Mourinho foi apresentado oficialmente pelo presidente Rui Costa como o novo treinador do Benfica, após a saída de Bruno Lage, e não escondeu a emoção de regressar ao clube.
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"Quero agradecer a confiança e a honra que sinto neste momento (a Rui Costa). Sendo português não há um único que não conheça a história, a cultura e a dimensão da nação benfiquista e deste clube. Mas eu quero deixar uma coisa clara, tenho que ser capaz de bloquear todas estas emoções e olhar para o Benfica e para esta minha responsabilidade de um modo muito simplista: sou o treinador de um dos maiores clubes do mundo. A promessa é clara, vou viver para o Benfica, para a minha missão. Saí de casa e disse 'até domingo'", começou por dizer Mourinho, na conferência de imprensa de apresentação.
O técnico abordou os últimos anos. "Na cabeça de alguma pessoas tenho dois currículos, um que durou um certo período e outro que na cabeça de alguma pessoas é uma fase menos feliz da minha carreira. A minha infelicidade é que nos últimos cinco anos joguei duas finais europeias", ironizou.
Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP
"O benfiquismo saltava à estrada, arrepia"
Mourinho diz que "os adeptos é que são importantes e está para servir o Benfica". "O povo quer ganhar mas quer sentir parte do esforço, da mentalidade, do sacrifício. Nós somos privilegiados, mas durante 90 minutos representamos aquela gente. Ontem [à chegada] era acompanhado por algumas motas das televisões, o benfiquismo saltava à estrada, arrepia, faz pele de galinha. 25 anos ao mais alto nível não me tornaram imune a tudo isto. Não vamos ganhar sempre, mas não podemos perder como perdemos há dois dias. Não é Benfica. Benfica é o que jogou contra o Fenerbahçe 30 minutos, é quem esteve em Istambul com um jogador a menos e conseguiu levar um resultado positivo", exemplificou.
O Benfica joga no sábado, às 18 horas, no terreno do AVS. "Tenho jogo daqui a 48 horas, vou encontrar jogadores em recuperação", frisou. "Não posso radicalizar. Tem de se começar por este perfil ao nível emocional, entrar em campo a saber que somos muitos milhões e pensar neles. Do ponto de vista tático", o técnico pretende intervir "mas de forma muito controlada. Muita coisa foi bem feita pelo meu antecessor", comentou Mourinho.
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"Contrato tem respeito enorme pelas eleições"
Foto: José Sena Goulão/EPA
Questionado sobre o contrato, fala sobre a ética do mesmo. "Só assinei, não o elaborei. Só assino o que me agrada, mas tem da parte do clube um respeito enorme pelas eleições, pelos sócios que vão concorrer à presidência. Sensibilizou-me o contrato ser direcionado por essa ética. No dia seguinte às eleições eu serei o treinador do Benfica, mas a presença desse lado ético dá uma facilidade que noutras condições não existiria. Quero trabalhar no Benfica mas quero que as pessoas estejam no mesmo barco do que eu. Quero cumprir os dois anos e contrato, com êxito, que o clube depois queira renovar comigo".
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E 25 anos depois o que mudou? "O que não mudou é que estou doido para ganhar o próximo jogo. Há 25 anos era a mesma coisa. Quando joguei contra o Benfica também estava. Essa é a minha essência. Mas há mais maturidade, é muito difícil acontecer alguma coisa com a qual não me tivesse já deparado. Venho para um clube com uma estrutura humana e profisional de altíssimo nível. As pessoas que trago comigo são a minha gente. É fantástico para mim", assumiu.
O treinador setubalense falou ainda das dificuldades no Fenerbahçe e deixou solidariedade com o seu antecessor. "No meu anterior clube as coisas eram fáceis, queria jogar a 4 mas o clube contratou 5 jogadores depois de eu ter saído. Enquanto lá estava era impossível. Mas adapto-me àquilo que existe. Tens de te adaptar ao que existe. Eu elogiei o plantel do Benfica e voltarei a fazê-lo. Se perguntar se joguei com as palavras, sim, mas achei que o Benfica tinha feito um ótimo trabalho no mercado, era uma equipa que gostei muito. Não sou um grande exemplo de fair-play, mas estou melhor. Não foi com facilidade que me saiu os parabéns ao Benfica e ao Bruno [Lage]. O Benfica tem bons jogadores, tinha um bom treinador, mas a nossa vida é assim".
"Treinar o Benfica é regressar ao meu nível"
Foto: José Sena Goulão
Mourinho não deixa promessas na apresentação. "Valem o que valem. Na altura, no F. C. Porto prometi e podia não ter cumprido. Penso verdadeiramente que o Benfica tem todas as condições para ganhar o campeonato. Tem dois pontos perdidos, seguramente iremos perder mais, espero que não muitos, mas partimos da estaca zero. Benfica tem potencial no balneário para ser campeão, mas não me escondo. Promessa não, mas a convicção que podemos e devemos fazer. O contexto para mim é treinar um dos maiores clubes do mundo, a minha carreira foi rica, treinei em diferentes países, tive uma opção errada, mas sem arrependimentos, mas a conciência do que fizemos bem ou mal existe. Fiz mal em ir para o Fenerbahçe, mas dei tudo até ao último dia. Treinar o Benfica é regressar ao meu nível".
Ao Mourinho de há 25 anos, diria "fizeste tudo bem. Obviamente fiz muita borrada, mas as coisas correram-me bem. Em relação ao ruído mediático sou muito forte a proteger-me disso. Não tenho tempo para me preocupar com coisas exteriores. Aquele que de vós me elogiar ou criticar não vai mudar a minha vida. Habituei-me a bloquear essas coisas. Não preciso de briefings diários, apenas os pontos-chave".
O técnico campeão europeu comenta que o Benfica tem "mordido" pouco e falou da próxima receção no Dragão. "Espero uma receção diferente. A que tive, foi normal porque sou um treinador histórico no clube, não ia lá há 20 anos. Regressar como treinador do grande rival, obviamente será diferente. Mas o respeito não vai mudar. Volto como treinador do grande rival, não há muita volta a dar, mas não tenho qualquer tipo de problema. Em relação ao jogo, temos de morder muito. O Benfica mordeu pouco nos últimos jogos".