Mário Dorminsky, agente cultural e adepto do Benfica, defende que no futebol português há sempre culpados de "tudo e mais alguma coisa" e diz que não vê nenhum campeonato com tantos "corta-relvas".
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Ser benfiquista no Porto tem-se tornado mais fácil?
Talvez sim. As novas gerações, particularmente por causa dos últimos títulos, de alguma forma estão a nascer para o Benfica. Durante dez anos, os mais novos eram portistas. Agora, não só há mais benfiquistas entre os jovens, como se reencontram outras pessoas, benfiquistas, que antes andavam escondidas. Sabe-se lá porquê. [risos]
Como explica esta onda vitoriosa do Benfica?
Acho que tem muito que ver com o F. C. Porto. A gestão que tem tido, a fraca organização em termos da SAD... isso tem muita influência nas equipas, porque os treinadores têm um poder limitado, relativamente ao que tinham no passado. E depois, não é só o F. C. Porto, mas também o Sporting. Há presidentes que assumem um papel de superpoderosos dentro das estruturas e não sei até que ponto isso interfere também no balneário. Além disso, o Benfica tem feito as melhores escolhas a nível dos jogadores e de aposta nas camadas jovens.
Quem diria que é a joia da coroa neste momento?
Uma joia da coroa... é difícil. Mas há jogadores como o Pizzi que são, de facto, marca portuguesa e não devemos deixar sair. Acho que cá os jogadores portugueses não são muito aproveitados. Aposta-se mais depressa nos jogadores estrangeiros e isso, de alguma forma, inverte a lógica do desenvolvimento do trabalho com as camadas mais jovens.
Este último campeonato dava um filme?
Tenho dificuldade em falar em filme porque, para mim, as polémicas são exteriores aos jogos. E acho que as características dos presidentes do F. C. Porto e do Sporting é que têm levado à existência dessas polémicas. Embora possa estar a cair no erro de ver isto da perspetiva de um adepto do Benfica. Mas vendo bem, o último campeonato dava um bom thriller. Há sempre culpados de tudo e mais alguma coisa e uma série de perseguições.
Tem-se representado demasiado?
Acho que sim. Comparando o futebol português com outros campeonatos, acho que há muita representação. É talvez o campeonato do mundo em que mais corta-relvas existem. Toda a gente vai parar à relva, para tentar o penálti. Depois, fala-se muito e isso, por vezes, limita a atividade das equipas.
Nas últimas semanas, fala-se muito do caso dos emails. O que acha de toda esta polémica?
Não ligo a isso. Depois de se provar, muito bem. Até lá, para mim, não passam de bocas e de jogadas.
Já esteve ligado ao cinema, à música, às artes plásticas e até já foi vereador da Cultura. Acha que muitas dessas áreas acabam por ser "esmagadas" pelo peso do futebol?
Completamente. Se o nosso país está a apostar no turismo, necessita da cultura para complementar. No Porto, há como que um abafar da cultura. Há coisas pontuais, mas não uma lógica continuada de programação.