Nunca perdeu em Anfield, onde o F. C. Porto joga esta terça-feira, mas reconhece que esta eliminatória europeia será "muito difícil" para os dragões e alerta para a qualidade de Salah, Mané e Firmino.
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O lateral direito ex-F.C. Porto tem saudades da Liga dos Campeões, mas diz que os jogos da Premier League, "a melhor liga do Mundo", assemelham-se aos da Champions. Também por isso não perde a ambição de voltar a ser chamado por Fernando Santos. Ricardo Pereira na primeira pessoa...
A 1 de abril fez sete anos que se estreou como sénior, no Vitória de Guimarães. A carreira bem-sucedida que vem a construir ainda lhe parece mentira?
Mentira, não, porque conforme vamos queimando etapas e conseguindo coisas novas, vamos ficando mais conscientes do que estamos a conseguir, fruto do trabalho que é feito e, neste caso, da minha qualidade. Só parece mentira se pensar nos momentos em que comecei a dar os primeiros toques na bola, quando apenas sonhava ser jogador profissional e parecia algo complicado de alcançar.
Quais os sonhos que lhe faltam concretizar no futebol?
Quando comecei tinha os sonhos de representar a seleção, de jogar a Liga dos Campeões, ganhar a Taça de Portugal e o campeonato, coisas que, felizmente, já alcancei. Mas os sonhos renovam-se sempre e o que mais quero é continuar a ganhar títulos. Também tenho o objetivo de continuar a representar a seleção em grandes competições. Já estive no Mundial e porque não ir ao Europeu também?
Ao fim de mais de meio ano em Inglaterra, confirma que a Premier League é o melhor campeonato do Mundo?
Apesar de só ter jogado nos campeonatos português, francês e inglês, sim, posso dizer que confirmei as expectativas em relação à Premier League como melhor Liga do Mundo. É muito equilibrada, todas as equipas têm bons jogadores. E temos as equipas do top 6, todas elas lutam pelo título. Isso é muito interessante.
Apesar de o Adrien ter saído do Leicester, nesse campeonato tem muitos amigos portugueses. Mantém contacto com eles?
Estava todos os dias com o Adrien, mesmo fora das rotinas de treino e jogo. Mas há os portugueses do Wolverhampton, que estão aqui mais perto e, de vez em quando, jantamos juntos. O Rúben (Neves), o Ivan (Cavaleiro), o Moutinho, o Jota, o Rui (Patrício), são os que conheço melhor... Sempre que podemos combinamos alguma coisa para estarmos juntos.
Suponho que a tragédia que vitimou o presidente Vichai tenha sido o pior momento do Ricardo nesta experiência no Leicester. Como é que se consegue superar uma situação dessas?
Foi uma tragédia que já seria má se tivesse acontecido com alguém que não nos fosse próximo, mas neste caso foi ainda pior. Estive com o presidente nesse dia, cumprimentei-o, e depois acontece aquilo, de uma forma tão inesperada, num sítio tão familiar para mim e para os meus colegas... Ao princípio foi muito complicado, sobretudo para os jogadores que já o conheciam há mais tempo, que viveram coisas muito boas com ele, como a conquista do campeonato. Mas a vida continua e, pouco a pouco, as coisas vão voltando ao normal.
O melhor é passarmos aos bons momentos. Que impacto teve aquele grande golo que marcou ao Manchester City e que deu a vitória ao Leicester?
Foi muito bom. Marcar o golo da vitória contra um adversário que é, provavelmente, a melhor equipa do campeonato tem um sabor especial. Ainda por cima foi no meu primeiro "boxing day", dia 26, tinha a família a ver o jogo no estádio, foi um golo bonito, deu três pontos importantes naquela fase complicada da época, com muitos jogos.
Ainda consegue passear como um anónimo nas ruas?
Aqui é mais tranquilo do que em Portugal. É verdade que, em Leicester, já me vão reconhecendo, mas ainda consigo andar tranquilo e são raras as vezes que sou abordado pelas pessoas. Mas, de vez em quando, é bom ser abordado e ouvir elogios ao nosso trabalho.
Já tem saudades de jogar na Liga dos Campeões?
Sim, já tenho algumas. Todos os jogadores querem jogar as grandes competições, como a Champions. Em contrapartida, todas as semanas tenho, aqui, jogos de dificuldade semelhante ou até superior, visto que aqui há várias jogos que, em termos de dificuldade, se assemelham aos da Champions.
Por falar nessa prova, o F. C. Porto joga na próxima terça-feira em Anfield. O Ricardo nunca lá perdeu [empatou pelo F. C. Porto e pelo Leicester]. Pode dizer qual o segredo para o F. C. Porto sair "vivo" de lá?
O segredo é ter atenção aos primeiros minutos do Liverpool, é uma equipa que entra forte, principalmente quando joga em casa, que tenta criar impacto cedo. No jogo lá, pelo Leicester, sofremos um golo logo de início. Se isso acontecer, é importante que o F. C. Porto se mantenha fiel aos princípios de jogo e que não desista.
É possível que o F. C. Porto possa, não digo vingar, mas corrigir a eliminatória com o Liverpool da temporada passada?
Sem dúvida, o jogo no Dragão, no ano passado, foi atípico. Lembro-me que começámos bem o jogo, que o Liverpool fez sete remates à baliza e marcou cinco golos. Tenho a certeza de que este ano será diferente. Um jogo como esse não acontece duas vezes e o F. C. Porto tem esta oportunidade para mostrar a real qualidade do clube.
O Liverpool está mais forte neste ano do que no ano passado?
O Liverpool é forte todos os anos, mas, esta época, já não há tantas hipóteses de seres apanhado de surpresa pela qualidade da equipa. Todos estão alertados devido ao trajeto que fizeram em 2017/18, mas acredito que será uma eliminatória difícil para o F. C. Porto.
Anulando-se Salah, anula-se o Liverpool?
Salah é um jogador muito importante, mas há muitas outras ameaças, tal como o Sadio Mané, que marca golos com enorme regularidade, o Firmino, que dá muito à equipa, ou até o Shaqiri, que também pode entrar e é muito importante. O trio de ataque do Liverpool é muito perigoso.
Quanto à Liga portuguesa, acredita que o F. C. Porto pode revalidar o título de campeão?
Claro. Será uma luta até ao fim, mas acredito que vão vencer.
Que importância tem Sérgio Conceição na equipa?
Foi muito importante na medida em que devolveu ao clube aquela mentalidade à Porto. Recuperou jogadores que não tinham tanta preponderância, trouxe garra, intensidade, capacidade de não desistir e lutar até ao fim. E, este ano, tem dado continuidade ao que fez no anterior.
E na transferência do Ricardo para o Leicester?
Foi muito importante. Sérgio Conceição chegou e fez questão de que eu ficasse no plantel. Deu-me confiança, mostrou que acreditava nas minhas qualidades.
Se pudesse escolher o clube para terminar carreira, seria o F. C. Porto ou o V. Guimarães?
O F. C. Porto é o clube do coração desde sempre, onde vivi momentos bonitos, mas também há o V. Guimarães, que é um clube que aprendi a gostar, onde comecei e passei momentos muito bons, como o da conquista da Taça de Portugal. Tenho muito carinho pelos dois e seria bonito voltar a vestir aquelas camisolas, mas essa pergunta é muito difícil de responder.
A chamada à seleção continua a ser um objetivo?
Sim, mas não é uma coisa que me tire o sono. Vejo isso mais como um bónus pelo trabalho que desenvolvo no Leicester.
Ainda vai a tempo de apanhar o comboio para a Liga das Nações?
Creio que sim, creio que o grupo ainda não está definido. Falta cerca de um mês para o fim da época e creio que há essa possibilidade.
Ricardo, Cancelo, Cédric, Dalot, Nélson Semedo, André Almeida... Pode dizer-se que a lateral direita é a posição em que a seleção está mais bem servida?
Portugal tem excelentes jogadores para todas as posições, mas é verdade que a lateral direita deve ser uma dor de cabeça para o selecionador. Acredito que não seja fácil escolher só dois, mas a competição entre nós é saudável e boa para todos, para a seleção, para os clubes e também para nós, jogadores.
BI:
Data de nascimento: 25 anos (6/10/1993)
Nacionalidade: Portuguesa
Clubes: Leicester, F. C. Porto, Nice e V. Guimarães
Títulos: Campeonato nacional (2017/18) e Taça de Portugal (2012/13)