A paixão da bola por todo o país. Ou como mesmo sem o mediatismo do escalão maior há equipas que arrastam multidões.
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É a vitória do futebol fora das duas ligas profissionais. De Norte a Sul, não faltam exemplos de equipas capazes de chamar mais público do que em muitos jogos do campeonato principal.
No distrital de Aveiro, nas duas últimas épocas, os jogos entre o União de Lamas e o Lusitânia de Lourosa chegaram a arrastar dez mil pessoas! Esta temporada, os lusitanistas voltaram aos nacionais e continuam fortes na mobilização.
Mais acima no país, em Santo Tirso, o histórico Tirsense surpreendeu em janeiro último, ao meter mais de sete mil adeptos, no jogo em casa com o Lousada, para o distrital da A.F. Porto.
O fenómeno também conheceu expressão em Lisboa, onde o renascido Estrela da Amadora recebeu no início de janeiro a versão clube do Belenenses. Estiveram cerca de seis mil adeptos no Estádio José Gomes, na Reboleira, embora nestes jogos por vezes seja difícil contabilizar o público, sobretudo quando as entradas são livres.
Muito mais clubes haveria para citar, mas os casos de Lourosa, Tirsense e Belenenses podem ser observados nesta reportagem. Os segredos das romarias que espantam campeonatos fora das ligas profissionais. Tão bom!
Lourosa Lugar cativo no top 20 de público sem fazer campanhas
O Lusitânia de Lourosa, equipa do concelho de Santa Maria da Feira, orgulha-se de arrastar muitos adeptos, mesmo estando no Campeonato de Portugal, o terceiro escalão nacional.
"É um clube de Liga, que está seguramente no top 20 de assistências, ao nível de todos os campeonatos", destaca Hugo Mendes, presidente da direção do Lusitânia, segundo classificado da Série B do Campeonato de Portugal.
Nos jogos em casa, o Lusitânia de Lourosa tem, em média, 2500 a 3000 espetadores e mesmo fora costuma ter meio milhar de apoiantes. "O que faz o clube são as pessoas e no nosso caso somos protagonistas de um fenómeno nacional, que até surpreende quem nos visita", acrescenta Hugo Mendes.
Numa cidade com dez mil habitantes e um estádio com capacidade para 8000 pessoas, as boas casas são comuns, mobilizando boa parte da população local.
O clube orgulha-se de chamar muito público aos jogos, sem fazer qualquer campanha promocional para o efeito. Os sócios pagam três euros para ver cada encontro em casa e, com a equipa a lutar por uma inédita subida à LigaPro, o Lusitânia espera ter em breve, na receção à vizinha Sanjoanense (3 de março), uma adesão de público perto da lotação esgotada, como aconteceu em alguns desafios da temporada passada, quando estava ainda nos regionais de Aveiro.
"Juntos vamos acordar o leão" é um dos slogans do departamento de marketing e comunicação do Lourosa, clube com quase 95 anos, que soube passar a forte paixão pelo emblema, de geração em geração.
"Há uma forte cultura de clube", realça Hugo Mendes, vincando que o Lusitânia era um "clube adormecido" quando a atual direção, em 2017, assumiu o projeto que já resgatou a equipa dos distritais e tem em mente estrear-se em breve nos escalões profissionais.
Tirsense Tecido empresarial ajuda a chamar o povo
É possível um jogo dos distritais ter uma assistência de fazer inveja a boa parte dos clubes da Liga de futebol? A resposta é... sim! Há pouco mais de um mês (20 de janeiro), o F. C. Tirsense, clube histórico do concelho de Santo Tirso, ultrapassou a fasquia das sete mil pessoas (7329), na receção ao Lousada, em desafio da Divisão d"Elite da Associação de Futebol do Porto.
Em parceria com uma marca de roupa desportiva, o Tirsense apostou em ter no Estádio Abel Alves de Figueiredo dez mil espectadores, distribuindo, durante a semana, 5000 bilhetes duplos. A fasquia mais otimista não foi alcançada, mas ainda assim os números deram ênfase ao poder de mobilização do clube.
Contactado pelo JN, Fernando Matos, presidente do Tirsense, confirma os números do jogo em causa, mas preferiu não se alongar em comentários.
Certo é que, além dos cinco euros de quota mensal, o Tirsense cobrava cinco euros por jogo em casa. Tinha uma razoável afluência de público, mas só disparou quando um dos patrocinadores comprou antecipadamente a bilheteira e depois cedeu gratuitamente os ingressos...
Nos últimos jogos em casa, com a equipa a lutar pelo acesso à discussão da subida ao Campeonato de Portugal (está em terceiro lugar na série 2 da Divisão d"Elite), os associados têm pago um euro, valor que dá direito a um bilhete extra, enquanto os não sócios pagam um euro por entrada.
Com os resultados a ajudar, o Tirsense tem recuperado a atenção da cidade e de freguesias vizinhas. Já fora, algumas equipas aproveitam a força do clube jesuíta, para explorar o interesse do cartaz desportivo. É o que acontecerá já neste fim de semana, na visita ao Vilarinho, que estabeleceu o preço de sete euros para o setor visitante, valor máximo, que cada equipa da Elite portuense pode praticar e apenas duas vezes por época. É o preço da fama...
Belenenses "Azuis" recomeçam do zero e revivem outros tempos
O diferendo entre o clube e a SAD ditou, no último verão, a separação das duas entidades e originou o surgimento de uma equipa, no escalão mais baixo do futebol distrital lisboeta, enquanto a formação profissional continuava na Liga.
Mas se a equipa da SAD joga agora em casa emprestada (primeiro no Jamor e, mais recentemente, no Bonfim), o Belenenses clube continua a utilizar o Restelo, onde em média tem 1500 pessoas. Cerca de metade em comparação com a versão SAD (3225), embora esta já tenha defrontado F. C. Porto e Benfica...
O entusiasmo com a equipa (16 vitórias e um empate em 17 jogos) do clube fez-se sentir logo no arranque. Em julho, no treino inaugural, estiveram 700 pessoas. Na apresentação aos sócios, frente ao Atlético, foram 5000 ao Restelo! Já houve jogos em que o recinto passou as duas mil pessoas, mas o recorde foi num desafio fora, a 6 de janeiro, na Reboleira, frente ao renascido Estrela da Amadora, em que só do Belenenses estiveram quase 4000 apoiantes...
"Os sócios quiseram provocar a rotura com os investidores da SAD. O clube não ficou de braços cruzados e o que tem acontecido só nos motiva a prosseguir o nosso caminho", refere, ao JN, Patrick Morais de Carvalho, presidente do Belenenses.
Em casa, os sócios não pagam bilhete e podem levar um acompanhante para a bancada coberta, ou sem limite na descoberta. O público paga cinco euros, valor que os adeptos azuis têm tido nos jogos fora, mas já houve entradas livres, como vai acontecer este fim de semana, em Carcavelos.
Com nove mil sócios, o clube tem crescido e admite chegar aos dez mil já em setembro de 2019, altura em que faz 100 anos.
"Estamos numa caminhada ascensional até ao futebol profissional e quando lá chegarmos oxalá já não seja obrigatório ter uma SAD. Basta seguir Espanha, em que é facultativo", frisou o líder do Belenenses.