Depois de ser campeão da Europa, Portugal conquistou a Liga das Nações este ano e vai defender o título de 2016 com várias caras novas na equipa
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Não houve um Éder, mas nem isso impediu a seleção portuguesa de consolidar-se ao mais alto nível e cimentar a veia ganhadora, estreada em Paris e com pernas para continuar a andar. Depois de ser campeão da Europa em 2016, Portugal conquistou a Liga das Nações em 2019 e em três anos afastou todos os fantasmas. Para além de tudo o resto, agora até já tem a aura vencedora e por isso vai para 2020 com aspirações infinitas em prolongar o momento único no próximo Campeonato da Europa.
Claro que o ano prestes a terminar não foi tão memorável como 2016. Ganhar troféus já não era novidade e só isso faz toda a diferença. Ou porque a Liga das Nações não é um Campeonato da Europa. Só que isso são só pormenores. Três anos depois do feito inédito, inesquecível, inesperado e épico de Paris, a seleção portuguesa voltou a bater a concorrência e como isso antecede outro Europeu, então sobram as razões para se olhar para 2020 com aquele sorriso malandro de quem espera mais coisas boas.
Portugal sofreu e só garantiu o apuramento na última jornada, mas não vai ao Euro 2020 só como campeão em título, o que já não era pouco. A Liga das Nações, conquistada em junho, no Dragão, e com um triunfo sobre a Holanda (1-0), dá ainda mais peso à equipa das quinas, até porque, à exceção da França (campeã do Mundo em 2018), mais nenhuma outra seleção ganhou o que quer que seja. Mesmo que Fernando Santos insista no "não somos favoritos, somos candidatos". Se deu resultado em 2016, porquê mudar?
Esperanças Renovadas
O entusiasmo e a esperança, portanto, têm razões de ser e se algum travão era preciso para manter os pés assentes no chão, ele surgiu logo no sorteio. Por não ter acabado a fase de apuramento no primeiro lugar do grupo, Portugal não foi cabeça de série e pagou caro pela distração. França e Alemanha são dois dos três adversários no Grupo F - o outro, mais modesto, virá do play-off da Liga das Nações -, pelo que o Euro 2020 promete ser a doer logo desde o início. Menos mal que, tal como em 2016, o terceiro classificado também tem hipóteses de avançar para os oitavos de final.
Em relação ao último Europeu, disputado em França, as diferenças na equipa de Fernando Santos ainda são consideráveis. Rúben Dias, Nélson Semedo, Rúben Neves, Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix não foram chamados em 2016 e dificilmente não estarão nos eleitos para o Campeonato da Europa que se segue, quase todos com boas possibilidades de serem titulares.
Se revalidar o título, Portugal fará o que apenas a Espanha conseguiu, ser campeão da Europa em edições consecutivas. Que 2019 seja, então, inspirador.
CR7 com coisas a tratar na provável despedida
Se tudo correr normalmente, Cristiano Ronaldo alargará um legado já único em campeonatos da Europa. Com mais um golo, descola de Michel Platini e tornar-se-á o maior goleador da história da competição e, se for utilizado um minuto que seja, será o primeiro a jogar em cinco edições. CR7 irá a jogo com 35 anos, pelo que também não é descabido que a próxima seja a última vez que participará num Europeu.
Depois de ter ganho em 2016 e ainda lhe ter juntado a Liga das Nações este ano, Ronaldo tirou um peso de cima. O título pela seleção, o tal que ajuda a elevá-lo ao Olimpo da bola, já ninguém lho tira, mas na quinta vez que aparecerá no certame ainda tem registos inéditos para concretizar. E logo quem! Com nove golos em quatro presenças - os dois primeiros foram na estreia, em 2004 -, o capitão português divide o trono dos goleadores com Platini, com a vantagem em relação à lenda francesa de que ainda está no ativo.
Por outro lado, logo que seja convocado, CR7 será apenas o segundo, a seguir a Iker Casillas, a participar em cinco europeus. E tão provável como isso é que também jogue na prova, formalidade que fará dele caso único noutra vertente: até agora, ninguém foi utilizado em cinco europeus.
Com Ronaldo à espera de fevereiro para completar 35 anos, a lógica diz que este será o último Europeu da carreira do avançado português. A não ser que ele continue a contrariar a normalidade. Com CR7 nunca se sabe.
Os senhores que se seguem
Bernardo Silva
Já é o segundo grande jogador do futebol português à escala planetária e não é descabido pensar que o médio do Manchester City assuma o pedestal de Cristiano Ronaldo logo que o capitão decida que já não tem como ajudar a equipa das quinas. Bernardo Silva até já figura entre os melhores do Mundo - quer na eleição para o The Best quer para a atribuição da Bola de Ouro - e mesmo com CR7 ainda disponível assume papel do predestinado na seleção de Fernando Santos, como atesta a Liga das Nações, em que foi considerado o melhor jogador da competição. Depois de ter falhado a festança que foi o Europeu de 2016, devido a lesão, quando já brilhava no Mónaco, Bernardo prepara-se para competir na segunda grande competição por Portugal e vai, não vá o diabo voltar a tecê-las, estrear-se em Campeonatos da Europa, depois da presença no Mundial do ano passado. Ao que tudo indica, o número 10 será dele e isso diz quase tudo.
João Félix
Ainda apalpa terreno na seleção principal, mas João Félix chegará ao Euro 2020 como uma das grandes esperanças lusitanas e um dos mais fortes candidatos a revelação da competição. Com cinco internacionalizações, três delas como titular, o avançado do Atlético de Madrid continua à procura do primeiro golo por Portugal e agora só o poderá fazer - pelo menos, oficialmente - no Europeu que andará por várias cidades europeias no próximo verão. Depois de também já ter falhado os últimos Europeus de Sub-19, Félix, de 20 anos, está nas contas para se estrear pela seleção A em grandes competições e é um dos mais fortes candidatos em fazer dupla com Cristiano Ronaldo sempre que Fernando Santos esqueça o conservadorismo e opte por jogar com dois avançados. O ex-jogador do Benfica chegará ao Euro de 2020 com o peso de ter custado 120 milhões de euros ao Atlético de Madrid e de ser Golden Boy. Não é pouco.