Festa brava lusa aumenta público e peso na economia apesar das proibições de touradas.
Corpo do artigo
Se um estudo do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em 2007, apontava que a maioria dos portugueses era contra a tauromaquia, a verdade é que o número de espectadores de corridas de touros e outros espectáculos taurinos nacionais não tem parado de aumentar. Numa década, registou-se mais 25% de afluência, sendo que, em 2009, mais de 757 mil mostraram ser a verdadeira "afición" que mantém viva esta tradição.
Àquela realidade associe-se, ainda, os dados do Instituto Nacional de Estatística, que apontam um enorme crescimento da importância deste sector na economia, e a - muita contestada por associações e movimento de defesa dos animais - criação pelo Ministério da Cultura de uma secção de Tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura (CNC).
Estabelecido o cenário luso, há a possibilidade de uma legislação semelhante à catalã surgir por cá? Ora, Viana do Castelo foi já a primeira cidade a auto-declarar-se "cidade anti-touradas", tendo o município espetado o último ferro no sector ao adquirir a praça de touros da cidade, com mais de 60 anos, e a pretender transformá-la num centro de investigação marítima. Braga, Cascais e Sintra, de uma forma menos rígida, também criaram regulamentos municipais para limitar espectáculos tauromáquicos.
Ainda assim, nada que atemorize quem vive directamente da festa brava. Muito mais preocupante parece ser o que ocorre aqui ao lado, onde a afición parece esmorecer-se. "Sempre se falou no fim das corridas de touros, a nível geral, pelo menos desde o século XVIII. Mas não deixa de ser preocupante que Espanha, onde a paixão pela tauromaquia é enorme, se queira dar esta machadada na tradição", reage João Santos Andrade, presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Lide (APCTL).
Para o dirigente, a proibição catalã pode, contudo, não ficar por aqui: "Não acredito que o que foi votado [proibição] se mantenha, porque vai haver uma batalha legal para evitar a sua aplicação".
"Preocupante é o risco de uma realidade que já ocorre poder ganhar maior dimensão. Neste momento as ganadarias espanholas têm excesso de touros e colocam-os em Portugal a um preço mais baixo e com uma qualidade inferior à nacional, quando eram os nossos touros que tinham valores mais baixos", explica João Santos Andrade, que representa 92 de 98 criadores nacionais. "Neste momento, eles contam com menos vacas e a diminuição de touros só se começará a sentir talvez dentro de três anos. Até lá, teremos de suportar esta concorrência desleal que pode crescer se os ganadeiros espanhóis virem que não escoam em Espanha", acrescenta.
Mesmo tentado a estabelecer um paralelismo com as posturas das forças partidárias entre os dois países - na Catalunha a Esquerda uniu-se para proibir touradas -, em Portugal não se pode ignorar que o Bloco de Esquerda lidera Salvaterra de Magos, município com fortes tradições taurinas, a CDU comanda os destinos de Barrancos, onde ocorrem lides com touros de morte, e a própria ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, ainda recentemente, como directora-geral da Cultura dos Açores, vincava a importância do sector.
"Não me parece que pudéssemos caminhar para uma proibição. É que mesmo com a crise, este ano está a ser muito bom para o negócio e nota-se que há um aumento de público", garante José Luís Zambujeira, o antigo cabo do grupo de Forcados Amadores de Cascais, hoje transformado em empresário de tauromaquia. E se há alguém que beneficia com a crise em Espanha, é o ex-forcado que explora as praças de Garvão e Aljustrel.
"Lá compramos os touros mais baratos e em Portugal aluga-se apenas a bravura. Ou seja, em Espanha compram-se os animais e fica-se com a carne. Cá o ganadeiro aluga o touro e depois decide se o revende após a lide ou se o manda para o matadouro. Claro que não nos compensa tanto", admite.