Deco abriu já 500 processos para apoiar pessoas a que faltam 600 euros por mês para pagar contas básicas.
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Desempregada, sem direito a subsídio e com dois filhos, "Maria" viu-se sem dinheiro sequer para comer. Recorreu à Deco e conseguiu que a junta de freguesia lhe cobrisse as contas de água, luz e gás e garantisse alimentação. O senhorio aceitou que não pagasse renda e viu aceite uma moratória de dois pequenos créditos. Agora de volta ao trabalho, "Maria" é um caso entre 7 mil que entre 18 de março e final de junho pediram ajuda à Associação de Defesa do Consumidor para enfrentar a abrupta quebra de rendimentos devido à pandemia.
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Às 500 famílias que a Deco ajudou com processos de intervenção, faltam todos os meses em média 600 euros para fazer face a despesas imediatas. E a partir de outubro, com o fim das moratórias para quem não tenha pedido o prolongamento, a Deco antecipa que os pedidos vão explodir.
Desde a declaração do estado de emergência, não param de chegar pedidos de ajuda. "Famílias que em fevereiro tinham a situação financeira mais ou menos estável, mas deixaram de ter capacidade de resposta aos compromissos. Muitas tiveram quebras significativas de rendimentos ou ficaram sem ganhar nada", descreve Natália Nunes. Um levantamento de dados do JN/DV mostra que quase 1,4 milhões de trabalhadores tiveram cortes de rendimento.
Depois, há "muito desemprego, recibos verdes, rendimentos informais que deixaram de existir" e que motivam pedidos de ajuda para reestruturar crédito (45%). Mas também para navegar as águas algo confusas das medidas para mitigar o impacto da pandemia, como moratórias ou a proibição de corte de fornecimento de bens essenciais como água, luz, gás ou comunicações.
E não há sinais de alívio: este mês, a Deco "continua a receber largas dezenas de pedidos por dia", sobretudo de informação sobre a continuidade da moratória do crédito ao consumo, "o que indicia a preocupação dos consumidores".
Natália Nunes acredita que vai haver novas vagas de problemas - a próxima já em outubro, depois de terminarem as moratórias. "Muitos consumidores com créditos e cartão de crédito vão ter de retomar o pagamento". E a partir de novembro têm de voltar a pagar os serviços, mais uma parte dos valores adiados até ao verão.
Receber 1000 euros, gastar mais 1600
Os pedidos de ajuda à Deco vêm sobretudo de famílias que recebem à volta de mil euros mas têm gastos muito superiores - só com créditos, a dívida média são 750 euros, a que se juntam despesas de 850 euros/mês. Mais de um quarto das famílias estavam em situação de desemprego ou tiveram perdas de rendimento, com 12% a relatarem situações de precariedade laboral ou penhoras.