O antigo presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, pressionou o executivo de Passos Coelho para ajudar o Grupo Espírito Santo através da Caixa Geral de Depósitos, reconheceu esta quarta-feira a ministra das Finanças.
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"Se não nos ajudarem, isto pode correr muito mal", disse o líder histórico do BES a Maria Luís Albuquerque, numa reunião entre Salgado e a titular da pasta das Finanças.
A revelação foi lançada pela governante na sua audição na comissão de inquérito parlamentar à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES).
"Com esse pedido, com essa pressão, com essa questão, pedi formalmente ao Banco de Portugal que assegurasse que tudo tinha sido feito para proteger o BES" da exposição ao GES, afirmou Maria Luís Albuquerque.
E realçou: "Em relação ao negócio não financeiro, o Governo recusou liminarmente dar qualquer apoio à área não financeira do GES".
Esta questão tinha sido abordada algumas vezes ao longo da audição da ministra, tendo a responsável garantido que Salgado "só falava das preocupações com o GES e não com o BES".
"Nunca ouve qualquer pedido, formal ou informal, ou sequer referência, a um pedido de recapitalização pública do BES", sublinhou.
A governante assegurou que aquilo que Salgado lhe pediu foi que o banco público financiasse o GES, algo que não aconteceu.
"Aquilo que me foi pedido numa dessas reuniões foi algum enquadramento em que houvesse um financiamento da CGD. Quer no caso do GES, quer em qualquer outro, o Governo não fala com a administração do banco público acerca dos créditos que deve, ou não, conceder", sublinhou.
"Nunca interferi com qualquer decisão da CGD nesta matéria, nem nunca o farei. E foi isso que referi. O Governo não ia ter qualquer interferência nessa matéria", salientou Maria Luís Albuquerque.
Segundo a ministra, a concessão de apoios públicos ao GES não faria sentido, nem haveria enquadramento legal para tal.
Reforçando o que já tinha dito na sua intervenção inicial, a governante vincou que "para o BES, nada nunca foi pedido".
Maria Luís Albuquerque está a ser ouvida pelos deputados desde as 15:00, naquela que é a segunda audição do dia da comissão de inquérito ao caso BES, depois de Fernando Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças do PS, ter estado no parlamento de manhã.
A comissão de inquérito arrancou na segunda-feira (dia 17 de novembro) e terá um prazo de 120 dias, que pode eventualmente ser alargado, e tem por intuito "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos, as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades".
A 03 de agosto, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após a apresentação de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades: o chamado banco mau (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas) e o banco de transição que foi designado Novo Banco.