Vendedores, informáticos e trabalhadores de "call center" são as vagas que ficam sem resposta. Ofertas de trabalho sem correspondência subiram 43,9%.
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O número de empregos vagos registados pelo Ministério do Trabalho é cada vez maior e ultrapassou os 60 mil no terceiro trimestre do ano passado. Ao todo, há 61 626 ofertas de trabalho que ninguém quer, a maioria no Norte e na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Os vendedores, os informáticos e os técnicos de call center são as profissões que as empresas mais procuram sem sucesso.
No final de setembro de 2022, havia 61 626 ofertas de trabalho que não geraram interesse junto dos desempregados, o que é mais 43,9% do que no período homólogo de 2021 e mais 19,9% do que o número de empregos vagos registado no segundo trimestre do ano passado. Mais de um terço dos empregos vagos está na AML (27 377). Logo a seguir, vem o Norte, com 18 117 ofertas por preencher, e o Centro, com 9844. A região da capital é, também, a que tem a maior taxa de empregos vagos, 3%.
Vendedores e artífices
Ao nível dos grupos profissionais, as necessidades variam consoante a região. Em Lisboa, no Algarve e no Alentejo, o grupo profissional mais procurado é o dos "trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores". No Norte, no Centro e nas ilhas da Madeira e Açores, procuram-se mais "trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices".
No caso da construção, o recurso à mão de obra de outros países tem sido a forma mais imediata de solucionar a falta de trabalhadores disponíveis [ler entrevista]. Por sua vez, o Banco de Portugal regista que as dificuldades em contratar pessoal qualificado é um fenómeno "particularmente notório no setor dos serviços".
Uma vez que a taxa de desemprego está baixa, a instituição, liderada por Mário Centeno, atribui este crescimento dos empregos vagos à "incompatibilidade entre a procura e a oferta de emprego". João Cerejeira, economista e professor da Universidade do Minho, corrobora que há "um desajustamento entre os candidatos e as ofertas de emprego disponíveis".
Mais difícil para grandes
Analisando os números por dimensão do empregador que procura trabalhadores, percebe-se que quanto maior é a empresa, maior é a dificuldade em preencher as suas necessidades. Nas microempresas, esta taxa é de 1,7%, nas pequenas e médias é de 2,1% e nas grandes sobe para 2,9%.
Se a análise incidir sobre as profissões mais procuradas, a dos vendedores é aquela que lidera a lista de pretensões. Ao todo, foram 11 742 ofertas de trabalho para vendedor que ficaram sem candidatos, o que representa um sexto do total de empregos vagos.
Logo a seguir, vêm os especialistas em tecnologias de informação e comunicação, onde se inserem os informáticos, com 5264 ofertas vagas de emprego. Neste caso, a rápida digitalização das empresas, motivada pela pandemia, aliada ao crescente aliciamento dos melhores quadros por parte de empresas internacionais, faz com que os empresários portugueses não vejam correspondidas as ofertas que colocam no mercado. Por outras palavras, faltam informáticos.
Em terceiro lugar, surgem os profissionais de apoio direto a clientes, como os trabalhadores de call center, com 4978 ofertas.
A taxa de empregos vagos é de 1,7% em Portugal, o que significa que, em cada mil ofertas de trabalho que chegam ao Instituto de Emprego e Formação Profissional, 17 não são correspondidas. Apesar do aumento - em 2021, a taxa de empregos vagos era de 1,2% -, a situação de Portugal no contexto europeu é confortável, dado que é o nono país com melhor prestação e a taxa de empregos vagos está abaixo das médias da União Europeia (2,9%) e Zona Euro (3,1%).
Pormenores
Conceito estatístico de emprego vago
O conceito estatístico de emprego vago é, para a Segurança Social, a oferta de emprego remunerado, criada pela primeira vez, não ocupada ou prestes a ficar vaga e em que o empregador está a tomar medidas ativas para encontrar um candidato.
Hotéis contrataram imigrantes no verão
Várias cadeias de hotéis socorreram-se de mão de obra estrangeira no verão passado. O Grupo Pestana, o maior de Portugal, admite que os trabalhadores marroquinos se destacam entre as nacionalidades.
Alsa Todi recrutou em Cabo Verde
A empresa de transportes rodoviários da Península de Setúbal, Alsa Todi, contratou mais de 50 motoristas que estavam em Cabo Verde desde o verão passado.
Dirigentes também são procurados
A proporção é pequena comparada com outros grupos profissionais, mas 0,6% dos empregos vagos registados no terceiro trimestre do ano passado era para dirigentes, diretores e gestores-executivos.