Patrões da indústria aconselham Governo a concentrar-se no défice e nos juros com "troika"
O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa considera que os juros e a meta do défice para 2014 devem concentrar as atenções do Governo na oitava e nona avaliações do programa de ajustamento que hoje começa a discutir com a 'troika'.
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"É bom que se trabalhe em dois patamares distintos, o valor dos juros - os fundos europeus que nos emprestam dinheiro financiam-se a 1,9% e emprestam-nos a 3%, há aqui margem para que a nível do valor dos juros se possa fazer alguma coisa - e depois o défice", afirmou o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), António Saraiva, à entrada da reunião da Comissão Permanente de Concertação Social.
A reunião que se encontra a decorrer na sede do Conselho Económico e Social foi convocada pelo Governo para debater com os parceiros sociais as matérias relacionadas com a 8ª e 9ª avaliações do Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal, e conta com a presença do vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, do ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, e do secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas.
"Terão que nos explicar como passamos de um défice de 5,5% em 2013 para 4% em 2014, quando historicamente a redução nunca foi desta magnitude. Como é que se vai reduzir 1,5 pontos percentuais do Produto Interno Bruto em tão curto tempo?", interrogou o líder da Confederação Empresarial de Portugal.
"O desenho deste programa de ajustamento não gerou os resultados que se esperavam, é bom que se redesenhe esse programa de ajustamento nestas duas vertentes, a do valor dos juros e os calendários do défice", rematou o líder da CIP.
Também à entrada para o mesmo evento, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, considerou que a reunião "devia ser para avaliar as políticas deste Governo, que se traduzem por mais défice, mais dívida, mais desigualdades sociais", mas também para anunciar "a decisão de renegociar a dívida, a paragem da austeridade, de mais proteção dos desempregados e de perspetivas de crescimento económico".
Ao invés, considerou ainda Arménio Carlos, esta é "uma reunião para criar uma encenação de que o Governo dialoga, chama os parceiros sociais à segunda-feira, depois impõe cortes e mais medidas de austeridade nos restantes dias da semana".
Começa hoje a oitava e nona avaliações da 'troika' (composta pelo Fundo Monetário Internacional [FMI], Banco Central Europeu [BCE] e Comissão Europeia) a Portugal, as primeiras conduzidas por Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, e por Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças.
A meta do défice para 2014 - que foi revista em alta para os 4% do Produto Interno Bruto (PIB) na sétima revisão ao programa de assistência e que o Governo quer voltar a rever, agora para os 4,5% - e a adoção de um programa cautelar serão dois dos temas em negociação pelo Governo e pela 'troika' na oitava e nova avaliação que hoje começa, dois assuntos em que há divergências entre o Executivo e os credores internacionais.
A implementação de um programa cautelar em Portugal após o atual programa, em junho de 2014, deverá ser outro dos assuntos em cima da mesa das conversações.