Os preços do vestuário estão em queda desde o final de 2008, um fenómeno que as associações do setor explicam pelo impacto da crise económica.
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Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), em fevereiro a taxa de inflação subiu 3,6% relativamente ao mesmo mês do ano anterior; no entanto, na classe de produtos "vestuário e calçado", a variação foi negativa. Os preços reduziram-se 2,73% face a fevereiro do ano passado.
Este cenário de uma taxa de inflação total relativamente alta e uma quebra nos preços do vestuário não é novo. Em todos os meses desde dezembro de 2008, os preços na categoria de produtos "vestuário e calçado" estão mais baixos que no ano anterior.
O ritmo da quebra tem-se até acelerado. Desde agosto de 2010, a taxa homóloga de queda dos preços nesta classe tem sido superior a 1,4%; em alguns meses de 2011 ultrapassou os 6%, e em agosto a quebra atingiu 11,92%.
"As empresas precisam de vender", disse à Lusa Alexandre Pinheiro, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC/APIV). "A parte comercial tem tido reduções muito grandes nas vendas, com os cortes que tem havido em ordenados no setor público, e os aumentos nos impostos. Isso obriga as famílias a fazer reduções. Certamente que entre [as reduções] estará o comprar menos vestuário."
João Costa, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, disse à Lusa que "à saída da fábrica, os preços caíram até 2009, mas desde então têm vindo a subir".
"É o negócio retalhista que está a ser fustigado. Têm vindo a esmagar os preços", acrescenta.
A quebra é ainda mais significativa considerando que a classe "vestuário e calçado" abrange várias subcategorias de produtos - entre as quais "materiais de vestuário" e "tecidos para vestuário", artigos onde os preços subiram ao longo do ano passado a taxas superiores às da inflação. Da mesma forma, a subcategoria "aluguer e reparação de calçado" tem tido taxas de inflação semelhantes à geral.
Ou seja: a queda dos preços na categoria "vestuário e calçado" explica-se mesmo porque a roupa e o calçado estão a ficar mais baratos. Na subcategoria "vestuário de mulher", por exemplo, os preços registaram quebras homólogas superiores a 2,9% nos últimos oito meses.
Uma explicação possível para a continuada quebra nos preços do vestuário é o efeito das importações de têxteis e calçado de países com custos de produção muito baixos, como a China, o Bangladesh ou o Paquistão. No entanto, Alexandre Pinheiro, da ANIVEC/APIV, não acredita que este seja o fator decisivo.
"Se a venda for feita diretamente por empresas chinesas que têm estabelecimentos no nosso país, então há uma redução de preços substancial e há várias pessoas que têm usufruído disso. Já para as empresas de marca, ser feito na China não significa que os distribuidores tenham reduzido o preço, podem aproveitar-se do custo mais baixo mas mantêm preços relativamente mais altos", disse Pinheiro.