O secretário-geral do PS desafiou esta terça-feira o Governo a esclarecer os motivos que o levam a prever um aumento do desemprego e mostrou-se cético sobre a estimativa da Comissão Europeia de que Portugal crescerá já em 2013.
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António José Seguro falava aos jornalistas no Centro de Congressos de Lisboa, depois de ter encerrado uma conferência sobre reforma administrativa, promovida pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e pela TSF.
O secretário-geral do PS referiu que o ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, estimou uma taxa de desemprego de 14,5 por cento no final de 2012, "o que constitui um aumento brutal".
"É importante que o Governo esclareça quais as razões que estão em cima da mesa para que se aumentem as previsões sobre a taxa de desemprego em Portugal. Na minha opinião, há uma razão muito clara e tem a ver com a alteração da conjuntura por via da aplicação de uma receita de austeridade, particularmente em Portugal", sustentou.
Para António José Seguro, a aplicação da receita de austeridade "tem consequências negativas, quer na quebra do produto em Portugal, quer no aumento do desemprego".
Interrogado sobre a previsão da Comissão Europeia de que Portugal voltará a crescer em 2013, o secretário-geral do PS mostrou-se cético em relação à validade dessa estimativa.
"Estamos habituados a que a Comissão Europeia reveja sempre as suas previsões, mas, como português, espero que desta vez tenha razão. Infelizmente, a receita que está a ser aplicada, quer na Europa, quer em Portugal, não dá sustento a essa previsão da Comissão Europeia", disse.
De acordo com o líder socialista, desde que a conjuntura de crise se instalou na Europa, já foram realizadas 18 cimeiras de chefes de Estado e de Governo.
"Em cada um desses conselhos europeus disse-se sempre que era o definitivo para resolver os problemas, designadamente na Grécia, mas os indicadores económicos e sociais pioraram. É bom que a União Europeia olhe para a realidade, arrepie caminho e coloque o emprego e o crescimento económico como as suas prioridades", afirmou Seguro.
Nas suas declarações aos jornalistas, o secretário-geral do PS identificou uma mudança positiva no que respeita às opções da "troika" (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional).
"Desde novembro que defendi sempre que houvesse mais crédito para as empresas, para que o processo de recapitalização dos bancos pudesse não ser inimigo da economia. O ministro das Finanças comunicou que isso vai acontecer, é positivo que a "troika' nos tenha ouvido", advogou António José Seguro.
Interrogado se considera que um ano a mais de consolidação orçamental evitaria um aumento acentuado do desemprego, Seguro disse que esse alargamento do prazo "permitiria aliviar os sacrifícios que estão a ser pedidos aos portugueses".
"Se houver menos sacrifícios em cada um desses anos [de consolidação das contas públicas], significa que há mais rendimento para as famílias e para as empresas poderem dinamizar a sua atividade, investindo, produzindo e preservando o emprego", sustentou o secretário-geral do PS.