O verão pede relaxamento nas regras e concentração na máxima de não aceitar regra alguma. O mundo fabuloso do vinho abre portas à liberdade absoluta, importante é a nossa satisfação enquanto apreciadores convictos. Aqui está a nossa seleção, feita a pensar em si, que gosta de sair um pouco da norma. Boas escolhas!
Corpo do artigo
Começamos logo com um Avesso da região dos Vinhos Verdes, mais propriamente de Amarante, com uma proposta arrasadora de todo e qualquer preconceito em matéria de maridagens. Um vinho que desafia as regras, por ser de 2017 e ainda tão vibrante. Viajamos até Vidago para lhe dar a conhecer um tinto literalmente produzido bago a bago. Grande trunfo transmontano. Dos novos Quinta da Barca, do Douro, selecionámos um grande vinho branco, preparado para encantar tudo e todos.
Nos altos de Portalegre, na Serra de São Mamede, garimpámos um branco de vinhas velhas que nos deixou estarrecidos. Um matizado de videiras que juntas dão origem a vinhos excecionais. Provámos a edição mais recente do célebre Garrafeira dos Sócios, no Alentejo mais clássico, e maridámo-lo com sucesso com pratos inesperados. No Dão, demos com um Moscatel Galego de grande elegância e tão cedo não o deixamos fugir. Da região do Tejo, selecionámos um rosé muito sério, com muitas possibilidades de harmonização. Não resistimos a um Alvarinho que está como peixe na água no Alentejo. Fizemos as loas e a grande vénia a um maravilhoso Syrah da região de Lisboa. E rendemo-nos a um Alfrocheiro do Tejo! Muito para provar e escolher na sua Evasões!
Casa de Vilacetinho Avesso Grande Reserva
Verdes branco 2017 (14%) | Casa de Vilacetinho
35 euros
Pontuação: 18
Estamos em Amarante, nos granitos que bordejam o Douro com majestade e frescura. A casta Avesso marca bem a sua presença, transmitindo tonalidades terra ao conjunto, apesar da juventude e força cítrica que o vinho ainda apresenta. É um caso notável de longevidade, tem muito ainda para nos dar. Fermentação e estágio de um ano em barricas de segundo ano de carvalho francês, de que não há sinal demasiado denunciado na prova. Entrada floral no nariz e na boca, a desenvolver depois um grupo de amargos vibrante. Irá muito bem com arroz de pato.
Quinta de Arcossó Bago a Bago
Trás-os-Montes tinto 2021 (14,5%)
35 euros
Pontuação: 19
O enclave da Quinta de Arcossó desenvolve-se em Vidago, numa encosta de declive acentuado, cerca de 20%, a uma altitude de 375 metros. Touriga Nacional (60%) e Touriga Franca (40%). Trabalho exaustivo de desengace manual dos cachos, apenas foram colocados bagos nas seis barricas ao alto utilizadas para produzir este vinho notável. Fermentação alcoólica, após a qual que se colocaram os tampos nas barricas, para se produzir a fermentação malolática e estágio de 22 meses. Taninos de filigrana, frescura acentuada. Excelente com pregado frito e alcaparras.
Quinta da Barca Grande Reserva
Douro branco 2023 (13,5%) | Maria Helena Alves
59 euros
Pontuação: 18,5
Este vinho marca o zénite de entendimento e a cumplicidade entre produtora e enóloga. Justina Teixeira é a produtora e a grande enóloga é Joana Pinhão. Fermentação e estágio de 10 meses em barricas de segundo ano de carvalho francês. As vinhas pertencem ao Baixo Corgo e estão situadas em Vila Marim, perto de Mesão Frio. Arinto e Malvasia Fina. Nariz de flores brancas, complementado por notas de vagens de ervilha. Boca eminentemente mineral, exuberante na fruta, profundidade e comprimento. Excelente com caril goês picante.
Trindades
Alentejo branco 2023 (13%) | Casa Murteira Trindade
19,50 euros
Pontuação: 17,5
Vinhas distribuídas pela Serra de São Mamede, Portalegre, a uma altitude de cerca de 700 metros. Vinhas velhas de sequeiro - mais de 40 anos -, a herdar a frescura única dos solos graníticos que caracterizam a região. Fernão Pires e Arinto. Fermentação em inox, estágio de 12 meses nas borras finas e sem contacto com madeira. Complexidade notável, muito boa definição. Mostra-se cítrico desde o primeiro contacto, para depois, na prova de boca, acrescentar mineralidade ao conjunto. Ideal com vitela assada à moda de Lafões.
Reguengos Garrafeira dos Sócios
Alentejo tinto 2021 (15%) | Carmim
29 euros
Pontuação: 18
É invejável a trajetória feita até aos nossos dias por este grande título vínico. Para mais, tratando-se de um vinho da Cooperativa de Reguengos de Monsaraz. É certo que a equipa de enologia se aplica ao máximo para que cada edição seja memorável. Mas é por isso mesmo que o devemos considerar um vinho produzido contra a corrente e a voracidade dos tempos modernos. Fermentações alcoólica e malolática em inox. Estágio de 18 meses em barricas novas de carvalho francês. Taninos finos e elegantes, força e frescura. Ideal para perdiz estufada.
Quinta do Sobral Moscatel Galego
Dão Branco 2023 (13%) | Quinta do Sobral
17 euros
Pontuação: 17
A Quinta do Sobral, em Santar, é dos produtores mais discretos que estão no mercado. E é também uma das maiores descobertas que nos espera. A região do Dão, pináculo da elegância e harmonia vínica, tem na grande enóloga Patrícia Santos uma das mais geniais criadoras de vinhos. O trabalho feito com este Moscatel Galego Dourado é disso exemplo. Desengace total e prensagem suave. Decantação em depósito inox. Vinho muito original, notas aromáticas iniciais de pêra. Na boca adquire tonalidades fascinantes de mel e cera de abelha. Muito bom com sushi.
Conde Vimioso rosé
Tejo 2024 (12,5%) | Falua
5,50 euros
Pontuação: 17
As boas surpresas são assim, não se anunciam nem se prevêem. Provar um rosé com este perfil é das melhores recompensas que um provador pode ter. Elaborado com uvas próprias, provenientes de solos arenosos com calhau rolado, das castas Touriga Nacional e Syrah; fermentou em inox. As impressões de nariz são sobretudo florais, com algumas notas verdes de ervilhas. A boca é uma verdadeira revelação. Copioso, acidez belíssima e notas de gengibre no final configuram este grande rosé para aventuras maiores. Delicioso com ensopado de borrego.
Ravasqueira Alvarinho
Alentejo (13%) | Ravasqueira
16 euros
Pontuação: 18,5
A casta Alvarinho passou de quase confinamento ao reduto minhoto de que todos temos memória a casta omnipresente em vinhos e lotes. Pelo meio, damos com exemplos felizes de adaptação a certos terroirs. Este Alvarinho, proveniente das vinhas argilo-calcárias do Monte da Ravasqueira, é um desses exemplos felizes. Fermentou em inox e estagiou sobre as borras com bâtonnage ao longo de cinco meses. A complexidade de boca e a flexibilidade à mesa são ambas desarmantes. David Baverstock é um mestre da sua arte. Vai muito bem com robalo com algas.
Quinta do Monte d"Oiro Parcela 24
Lisboa tinto 2020 (13%) | José Bento dos Santos
70 euros
Pontuação: 20
Vinho gigante, produzido a partir de uvas muito especiais da casta Syrah, concentradas na parcela n.º 24 da quinta. Trata-se de uma seleção massal, com varas originárias de vinhas velhas do Ródano, com mais de 60 anos. No nariz, há sugestões levemente mentoladas de bagas de arbusto escuras, com notas fortes de azeitona preta. Na boca, é telúrico e perfeito. É felizmente amigo da boa comida. Vai muito bem com galinhola estufada com foie gras. Pode casar bem com magret de pato com ameixa preta.
Qta da Lagoalva Alfrocheiro Grande Reserva
Tejo tinto 2023 (13%) | Quinta da Lagoalva
30 euros
Pontuação: 18
Este produtor tem várias responsabilidades no mundo agrícola em geral e no vínico em particular. A casta Alfrocheiro, de que este vinho é estreme, está plantada na quinta desde 1974. Há 50 anos que marca presença entre os vinhedos da família, em Alpiarça. Fermentação alcoólica em inox, malolática em barricas de carvalho francês, onde estagiou 14 meses. Nariz fortemente especiado, sugestões de ameixa-preta, noz moscada e bagas de arbusto. Na boca é cheio e intenso, mas de uma enorme elegância. Muito bom com linguado com trufas.