A capital da Escócia é um destino imperdível que nos devolve sensações propícias ao exagero. Tentações à parte, do castelo aos bares, tudo nos fica no coração, como um amigo.
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Quando o Vítor me falou da Atenas do Ocidente, pareceu-me um exagero. Porque tudo nele era uma hipérbole, na verdade, da exuberância do discurso à simplicidade arrebatadora da cabidela das quintas-feiras numa mesa de Braga. Talvez tenha sido a única vez em que o Vítor não transformou a Betesga no Rossio, pelo menos comigo. Edimburgo é, realmente, um museu cheio de vida, quase sempre um céu coberto de nuvens densas, como se a cidade quisesse manter em segredo o que só os que se demoram merecem descobrir.
Saímos de Portugal no calor de setembro e chegámos ao norte da Europa no frio de setembro, uns paralelos acima. E a descoberta começou com a surpresa admirável: quem conseguir alhear-se da fogosidade transmitida pela comunidade estudantil da universidade mais antiga do Reino Unido descobre em cada canto um elemento arquitetónico, uma rua, uma loja, uma igreja ou uma praça saída de um filme de Harry Potter. A primeira visão do Castelo de Edimburgo, empoleirado sobre a rocha vulcânica, é uma espécie de porta de entrada para um romance histórico e, simultaneamente, um cartão-de-visita sedutor, porque é quase impossível não ficarmos encantados quando chegamos a uma cidade grávida, com uma colina proeminente e um castelo no topo, qual cereja no bolo.
"Obrigado" a escolher o traço marcante do lugar em todas as latitudes visitadas, entregaria a Edimburgo o prémio socialização. Ao contrário de outros destinos, até bem próximos, a capital da Escócia nunca dorme, tem uma população jovem despreocupada com as horas. E afável. E exagerada na forma como vive de bar em bar, espalhando a alegria própria do britânico irmão dos pubs escuros com cinco pisos abaixo do nível da estrada. Edimburgo é uma cidade para visitar de dia e saborear de noite. Há um gatilho de conversa em cada balcão.
As surpresas não se resumiram à visita enquanto turista. No regresso, de volta a Portugal, lembrei-me das palavras do Vítor e percebi que, afinal, tudo o que me tinha dito fazia sentido. Sem pontinha de exagero. Acabara de visitar uma cidade com um coração do tamanho do dele. De certeza que foi isso que o seduziu e, portanto, as saudades são idênticas. Do Vítor, que um cancro levou, e de Edimburgo, onde todos devemos voltar.