A família Mansilha Branco vendeu a quinta que lhe deu nome como produtores de vinho. Já sem a Quinta do Portal, assumiram a sua primeira propriedade, Quinta dos Muros, em Favaios, para dar corpo a novas produções que se querem "elegantes e puras".
Corpo do artigo
Família ligada ao Douro desde, pelo menos, o século XIX, a Mansilha ficou conhecida nas últimas décadas como pelos vinhos Quinta do Portal. Mas em 2024, vendeu esta propriedade a que estavam ligadas mais duas - Confradeiro e Abelheira, - ao grupo The Fladgate Partnership. "Foi um negócio conveniente para ambos", admitiu Pedro Mansilha Branco, que agora, juntamente com o pai Eugénio Branco e o irmão João, se aventuraram em novos rótulos com as uvas que saem da Quinta do Muros, que, na verdade, foi a primeira propriedade de vinhos da família e de onde saíam já as uvas para os vinhos do Portal.
Recentemente apresentaram no restaurante Cafeína, no Porto, as duas primeiras referências, feitas em parceria com o enólogo de Alijó Jorge Alves (também conhecido pelo seu projeto Quanta Terra). "A Quinta dos Muros foi o início de todo o nosso projeto", conta Pedro. Mas a história remonta ao casamento entre a irmã do trisavô de Pedro com o irmão da sua trisavó, que ficou com a propriedade em 1881.
A quinta era grande mas com pouca áreas de vinha, que serviam para fazer vinhos do Porto. A família sempre gostou muito dos vinhos que dali saíam. "O nosso trisavô Francisco Mansilha até escreveu um livro, em 1905 chamado "Como se fazem os vinhos e o seu tratamento" [concluído apenas em 1962 pelo seu sobrinho-neto Manuel, avô dos atuais proprietários]. E aí escreveu Francisco: "Quem souber tratar os vinhos dos "Muros" irá convencer-se, por exames e comparações que faça, que os não há melhores no nosso país"".
A quinta foi passando de geração em geração até que em 1974 se deu uma grande mudança. "O meu avô paterno era um apaixonado pela quinta, mas morre em 1973 e esta é herdada pelos meus pais." E o pai Eugénio Branco não só começou a fazer stock de vinho do Porto para envelhecer (este até então era vendido a granel) como aumentou a área de vinha, ao longo das duas décadas seguintes. Fez-se muito vinho do Porto e plantaram-se castas típicas do Douro: Mourisca, Tinta Barroca, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinta Amarela. Na altura, não tinham nenhuma marca, dedicavam-se apenas a produzir e a envelhecer portos. Já tinham muito vinho a envelhecer e decidiram fazer uma adega. Saltaram, então, o rio Pinhão e foram de Favaios para Sabrosa, tendo comprado em 1991 a Quinta do Confradeiro e a Quinta do Casal de Celeirós, que renomearam como a Quinta do Portal. "Todo o nosso o projeto comercial vitivinícola acabou por que culminar no Portal", conta Pedro.
Nesta fase, em que se desfizeram da quinta e do vinho do Porto, voltaram à origem e estão a fazer vinho com o rótulo Quinta dos Muros. Esta foi sempre a quinta "que fornecia as melhores uvas para todo o projeto, está muito bem definida em termos de parcelas e temos exposições solares a norte (o que agora é muito importante por causa do calor e da falta de água) e, sobretudo, a poente". A maior parte das plantações são "field blend", ou seja, uma mistura de castas na mesma parcela. "Nas vinhas velhas [que remontam aos anos 1970] chegamos a ter 29 castas, nas outras, umas cinco." Isto em 24 hectares - têm mais 11 em outra quinta que mantiveram, a Quinta da Manuela de Cima; não confundir com a Quinta da Manoella, vizinha da dos Muros e que produz e rotula os seus próprios vinhos.
A vinha plantada na década de 70 está distribuída em oito patamares entre os 440 e os 480. Nas vinhas plantadas por casta, há Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinto Cão e Tinta Barroca.
Neste renovado projeto já engarrafaram dois vinhos: um rosé, feito com Tinta Roriz (de uma parcela plantada em 2007), com 30 dias de estágio em barricas novas de carvalho francês e o restante em cuba de inox; e um tinto, com Tinta Roriz, Touriga Nacional e vinhas velhas. Estagiou cinco meses em barricas novas de carvalho francês.
Já têm também planeado engarrafar o M7 (vinho que já existia como Quinta dos Muros M7 - referência ao número da parcela - antes da venda do Portal) na primeira Lua Cheia de março. E vão produzir um branco de uvas tintas ("blanc de noirs"), com a mesma Tinta Roriz com que fazem o Rosé. Serão sempre vinhos com "complexidade, mas fáceis de beber e com potencial de envelhecimento Um trabalho de conjunto entre viticultura e enologia, que quer mostrar toda a sua elegância e pureza", remata Jorge.
Quinta dos Muros
Favaios
Tel.: 969 519 027
Preço: Quinta dos Muros Rosé (Tinta Roriz), 15 euros;
Quinta dos Muros Tinto (Touriga Nacional, Tinta Roriz, field blend de vinhas velhas),19 euros