No seu projeto Pequenos Rebentos, na região dos Vinhos Verdes, o enólogo Márcio Lopes homenageia a tradição com dois pet nat e a sua bebida de eleição, o champanhe, inspirado nas melhores casas francesas.
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Produzir pet nat (do francês "pétillant naturel", espumante natural) não é coisa recente no Minho. "Esse é o nome universalmente conhecido, mas sempre se fez um pouco por toda a região dos Verdes", conta Márcio Lopes, que no projeto Pequenos Rebentos produz dois pet nat e um espumante por método clássico.
O enólogo lembra que, há umas décadas, o vinho era engarrafado sempre com um pouco de açúcar residual. "Os meus avós faziam desta forma. Muitas vezes, engarrafavam ao mesmo tempo que estava a fermentar. Quando se abria, o vinho estava gaseificado, pois terminou a fermentação na garrafa. Havia anos em que o vinho era fantástico, e outros em que as garrafas estouravam."
Márcio criou o Pequenos Rebentos Ancestral, produzido com a casta Loureiro, de uma vinha de Ponte de Lima. Oficialmente, este rótulo nasceu há dez anos, embora já o fizesse para consumo com amigos. "A minha importadora andava à procura de Loureiro e Alvarinho porque eram muito requisitados na Califórnia. Provou este e adorou. Eu tinha umas 400 garrafas, rotulámos e enviámos. A partir daí, foi até às dez mil garrafas."
O outro pet nat do Pequenos Rebentos tem o nome de O Príncipe e o Bandido e conjuga duas castas de Monção e Melgaço. "O príncipe é o Alvarinho." O bandido, adivinhe-se, é a mal amada casta tinta Vinhão. Tanto o Ancestral como o Príncipe e o Bandido são engarrafados sem adição de qualquer conservante. "As vinhas que dão origem a estes vinhos têm um pH bastante baixo. Isso permite defender-se de qualquer alteração microbiológica. Depois, os vinhos também têm a borra, que é um antioxidante natural. E isso faz com que consigam envelhecer bem."
Além destes, Márcio Lopes faz um espumante através do método clássico, ou seja, ao jeito dos champanhes, com dupla fermentação em garrafa. Sendo o champanhe a sua bebida de eleição, é curioso que para este espumante utilize uma casta na qual nem acredita que seja adequada para esse fim: o Alvarinho. "É uma variedade muito terpénica, muito aromática. Os bagos são muito pequeninos, com uma película grossa rica em fenólicos."
Márcio segue exemplos de produtores da região de Champagne que admira, como Jacques Selosse e Egly-Ouriet. "Tento fazer uma base que extraia o menos possível da prensa e que tenha o máximo de líquido." Monção e Melgaço possuem microterroirs e dentro da casta Alvarinho alguns clones dão origem a cachos e bagos maiores. "Temos duas vinhas com esse clone e com eles fazemos a nossa base." No início de 2022, começou a adicionar Alvarelhão ao lote (este ainda não saiu para o mercado).
O espumante é envelhecido em barricas usadas de carvalho francês para a micro-oxigenação ao estilo das grandes casas de Champagne. "Tem dado bons resultados. Os aromas tropicais desaparecem e fica o que queremos, a cremosidade." Lição final: "Uma coisa é fazer vinho, outra é fazer espumante". É um desafio que requer "muito rigor e atenção".
Pequenos Rebentos
Web: mlw.pt
Preço: Ancestral: 15 euros; O Príncipe e o Bandido.: 15 euros; Alvarinho Cuvée: 19,50 euros