A GNR apreendeu oito lanchas rápidas, semelhantes às usadas para transportar droga, no interior de um armazém de Vila Nova de Cerveira. Uma das embarcações estava pronta a navegar e as restantes estavam em fase de conclusão. Também identificou três homens, de nacionalidade espanhola, que tentaram impedir a entrada dos guardas para terem tempo de se esconder. Esta descoberta vem confirmar, uma vez mais, a tendência que está a levar os cartéis espanhóis a mudar as operações para Portugal.
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O armazém está localizado junto a várias residências, longe da costa e há muito que não tinha qualquer utilização. Por esse motivo, a entrada e saída de várias pessoas daquele local chamou a atenção dos moradores e um deles, suspeitando que estava a ser cometido algum crime, alertou a GNR, nesta quarta-feira.
O Comando Territorial de Viana do Castelo acionou, de imediato, os militares do posto de Vila Nova de Cerveira e reforçou o dispositivo com elementos dos postos de Caminha e Valença, assim como da Investigação Criminal.
Todos deslocaram-se para o local indicado e confirmaram que três homens estavam no interior do edifício. Estes, quando se aperceberam da presença dos militares, bloquearam a única porta de entrada, esconderam-se, mas foram localizados pouco depois dos guardas terem acedido ao interior do espaço.
Seis moldes encontrados
Na mesma ocasião, os guardas verificaram que o armazém guardava oito lanchas "voadoras". "Uma totalmente operacional para navegar e sete em fase avançada de construção", explica a GNR, em comunicado. No armazém havia ainda seis moldes para construir o mesmo tipo de embarcações.
A GNR não tem dúvidas que o armazém de Vila Nova de Cerveira estava "adaptado para a construção e reparação de embarcações de alta velocidade de forma dissimulada", mas não avançou para a detenção dos três homens, com idades entre os 40 e os 46 anos, que estavam no seu interior. Procedeu somente à sua identificação, confirmaram que se tratavam de cidadãos espanhóis e libertaram-nos.
Lei mais dura em Espanha
Tal como o JN já informou, a lei portuguesa não proíbe, e tão pouco criminaliza, a construção de lanchas rápidas, mesmo que estas sejam utilizadas, quase em exclusivo, para transportar droga entre Marrocos e Portugal ou de navios atracados em alto mar até à costa nacional.
Assim, quem for apanhado a produzir e até a navegar neste tipo de embarcações não pode ser detido se estas não transportarem droga. Apenas podem ser punidos se, em fase posterior, as autoridades conseguirem provar que as embarcações serviriam, de facto, para o tráfico de cocaína e haxixe.
Aliás, as lanchas "voadoras" agora encontradas só foram apreendidas como "medida cautelar" no âmbito de uma investigação que se iniciará.
A lei em Portugal é muito mais permissiva que a legislação espanhola. Do outro lado da fronteira, desde 2018, que é a proibida a construção e posse de embarcações insufláveis e semirrígidas que, com menos de oito metros de comprimento, tenham motores com mais de 204 cavalos, muito aquém dos usados pelas lanchas "voadoras". A proibição abrange ainda lanchas com mais de oito metros ou alteradas para acomodar tanques de combustível adicionais ou com fundos duplos.
Cartéis transferem-se para Portugal
Esta diferença entre os dois modelos legislativos está a levar que cartéis sediados em Espanha estejam a transferir as suas operações criminosas para Portugal. Como prova, mais uma vez, os três espanhóis identificados no interior do armazém de Vila Nova de Cerveira.
Sabendo que não podem ser detidos se apanhados com lanchas rápidas, os traficantes espanhóis constroem as embarcações em Portugal e é da costa portuguesa que as lançam ao mar.