O empresário acusado pelo Ministério Público (MP) de ter ordenado um incêndio que matou uma pessoa era um frequentador da noite do Porto, que não tinha problemas em gastar dinheiro.
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Foi até nas suas incursões noturnas que contratou dois indivíduos, prováveis autores materiais do fogo posto no número 100 da Rua de Alexandre Braga, no Porto, a 2 de março passado, que também desalojou uma mulher de 88 anos e os dois filhos sobreviventes.
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Chenglong Li, de 24 anos, era cliente em especial de um estabelecimento de diversão noturna na zona industrial do Porto, com um conceito de luxo que mistura discoteca, casa de espetáculos e cabaré à moda de Paris e Las Vegas (Estados Unidos), no qual - refere a acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal do MP do Porto - chegava a gastar mais de 1000 euros por noite.
Foi ali que, em dezembro de 2018, travou conhecimento com um dos vigilantes do espaço e um praticante de boxe, dos quais se aproximou e pediu ajuda para concretizar um objetivo: levar a família de Maria Mendes Oliveira, que pagava renda mensal de 53,28 euros, a aceitar cessar o contrato de arrendamento que durava há mais de 50 anos e só poderia deixar de vigorar por acordo.
A família manteve recusa de propostas de 10 mil, 15 mil e até de 40 mil euros, mesmo perante as visitas intimidatórias do vigilante e do pugilista, contratados pelo empresário chinês mediante uma contrapartida em dinheiro de montante não concretamente apurado pela investigação da PJ.
Reuniões preparatórias
Agora em prisão preventiva, Chenglong Li não foi detido imediatamente após o incêndio fatal, a 2 de março passado. O empresário chinês foi seguido durante dia e noite pelos inspetores da PJ do Porto, que o colocaram sob escuta e analisaram todos os seus registos telefónicos, visando reconstituir os seus passos e, eventualmente, ligá-lo ao crime e aos alegados executantes.
Neste contexto, foram detetados os hábitos e gastos faustosos na diversão noturna, por parte do principal suspeito. Também foi descoberta a realização de pelo menos três reuniões preparatórias entre o empresário e os indivíduos contratados, em dois conhecidos restaurantes e num hotel de luxo da cidade do Porto.
Nesta sequência, chegou a ser efetuada uma primeira tentativa de incêndio, a 23 de fevereiro de 2019.
Posteriormente ao crime de 2 de março a investigação apurou que o empresário de nacionalidade chinesa efetuou pagamentos aos dois principais alegados executantes. A 27 de março, o vigilante da discoteca terá recebido um envelope com dois mil euros. No dia seguinte, num café em Espinho, terá sido entregue ao pugilista uma quantia indeterminada.
BCP travou fuga
Vendeu prédio e lucrou 555 mil apesar de preso
Conforme o JN noticiou, o empresário chinês conseguiu os seus intuitos de especulação imobiliária mesmo depois de preso preventivamente. Acabou por vender o imóvel quase pelo dobro do valor de compra, com lucro superior a meio milhão de euros. Adquiriu-o por 645 mil e vendeu-o por 1,2 milhões de euros, com lucro de 555 mil euros. O negócio de venda do imóvel foi efetivado pela mulher do empresário, mediante uma procuração passada por Chenglong Li. Depois disso, tentou enviar 600 mil euros para a China. Só não o conseguiu porque o Millennium BCP comunicou às autoridades judiciais suspeitas de branqueamento de capitais, levantadas pelas ordens do casal de transferência de duas tranches, de 300 mil euros cada. O Ministério Público mandou suspender a operação bancária e o dinheiro está apreendido à ordem do processo, como proveito do crime.
Pormenores
160 mil euros foi quanto uma sociedade de Chenglong Li recebeu, a 28 de novembro de 2018, a título de sinal num contrato-promessa de compra e venda do prédio. O preço fixado para o negócio total foi de 1,2 milhões de euros.
Dinheiro do Canadá
Chenglong Li adquiriu o prédio na Rua de Alexandre Braga, no Porto, por 645 mil euros, em 2016. O dinheiro terá sido proveniente de familiares residentes no Canadá e também na região de Macau, pertencente à China.