A maior organização criminosa dedicada ao tráfico de cocaína em Portugal foi definitivamente desmantelada. Esta é, pelo menos, a convicção da Polícia Judiciária (PJ) que, nesta terça-feira, realizou uma megaoperação concluída, no final de 55 buscas, com nove detidos. Um deles irmão de Rúben Oliveira, o narcotraficante português conhecido por "Xuxas" e posto na cadeia em junho último. Outro dos detidos é o número dois do cartel liderado por "Xuxas" e ligado ao Major Sérgio Carvalho, o "Escobar brasileiro" também detido este ano.
Corpo do artigo
"A operação visava o total desmantelamento de uma organização criminosa dedicada à importação para a Europa de consideráveis quantidades de cocaína", afirmou o diretor da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da PJ. À margem da cerimónia comemorativa do 77.º aniversário da Judiciária, decorrida no Porto, Artur Vaz esclareceu que a rede criminosa tinha uma "implementação forte no território nacional", ao importar droga da América do Sul para a distribuir não só por Portugal, como também por outros países europeus.
14972030
Tentáculos em portos, aeroportos e mercados abastecedores
O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que dirigiu o inquérito, acrescenta que, pelo menos desde 2019, a organização de Rúben Oliveira introduziu, no mínimo, 1,6 toneladas de cocaína no país. O cartel dispunha, confirma o DCIAP, de "ramificações importantes em diversas estruturas, designadamente nos portos marítimos de Setúbal e de Leixões, no Aeroporto Humberto Delgado e no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa".
Locais por onde a cocaína entrava em território português. Nalguns casos, aponta fonte ligada ao processo, escondida em malas postas nos porões dos aviões que viajavam entre o Brasil e o aeroporto de Lisboa, mas na maioria das situações dissimulada em contentores transportados por navios que faziam a travessia entre os dois países.
Em fevereiro deste ano, por exemplo, a PJ apreendeu 350 quilos de cocaína, encobertos num carregamento aéreo de seis toneladas de papaia proveniente do Brasil, destinada a esta organização.
"Xuxas" detido em junho
Quatro meses depois da primeira ação da operação "Exotic Fruit", seria detido Rúben Oliveira. "Xuxas" foi surpreendido pela PJ quando abandonou o esconderijo no estrangeiro para visitar a família, em Lisboa. Foi apanhado em plena rua, nos Olivais.
Rúben Oliveira há muito tempo que estava referenciado pela UNCTE por ligações ao submundo da droga. Nunca, porém, tinha sido condenado e, nos últimos dois anos, alcançou o topo da hierarquia dos narcotraficantes nacionais.
O facto de ter contactos muito próximos com dois cartéis colombianos e, sobretudo, conquistado a confiança de Sérgio Carvalho, antigo oficial da Polícia Federal brasileira, de 62 anos, que as autoridades acreditam ser um dos maiores traficantes do Mundo, foi fundamental para o crescimento vertiginoso de Oliveira.
O português tornou-se responsável pela logística necessária à retirada da cocaína dos aviões e barcos usados no tráfico entre o Brasil e Portugal e era ainda ele que tratava da venda e transporte da droga até ao destino final.
Na Área Metropolitana de Lisboa, "Xuxas" ainda controlava uma rede responsável por todas as etapas do tráfico, incluindo a venda direta ao consumidor.
Atualmente, Rúben Oliveira, que ostentava elevados sinais de riqueza, está em prisão preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto. Tem direito a hora e meia de recreio no pátio, passando o resto dos dias fechado numa cela.
Na cadeia, mas na Hungria, está igualmente o "Escobar brasileiro". O Major Sérgio Carvalho, que passou dois anos escondido em Portugal, foi capturado quatro dias antes de "Xuxas", no âmbito de um mandado de detenção internacional. Estava num hotel húngaro, com passaportes falsos e é na Hungria que, apurou o JN, será julgado por falsificação de documentos.
Em seguida, poderá ser extraditado por um dos vários países em que cometeu crimes. O Brasil, terra natal do barão da droga, será o destino mais óbvio, mas a defesa do "Escobar brasileiro" já terá requerido que este seja extraditado para Espanha.
Operacionais capturados
As detenções de "Xuxas" e do Major Sérgio Carvalho não ditaram o fim da investigação da PJ. Bem pelo contrário. Os inspetores da UNCTE aproveitaram o momento de fraqueza do cartel para reforçar as diligências e pôr um ponto final na organização.
O que terá sido conseguido com as detenções agora realizadas. Além do irmão de Rúben Oliveira, responsável pelo branqueamento de parte significativa dos lucros obtidos com a venda de cocaína, a PJ capturou o braço-direito de "Xuxas" e número dois da organização. Os restantes detidos na terceira ação da "Exotic Fruit" eram operacionais responsáveis, entre outras tarefas, pelo recrutamento de vendedores de droga na rua.
As 55 buscas efetuadas nesta terça-feira tiveram como alvo as habitações dos narcotraficantes e alguns armazéns e espaços comerciais utilizados pela rede criminosa para guardar a cocaína e branquear o dinheiro proveniente do tráfico.