A defesa do advogado Aníbal Pinto, acusado de ter tentado extorquir a Doyen Sports em conluio com Rui Pinto, acusou esta sexta-feira, em tribunal, a Polícia Judiciária (PJ) de ter chegado à identidade do mentor do Football Leaks na sequência de um ataque informático com origem naquele fundo. O alvo terá sido o computador de Aníbal Pinto.
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Para o advogado deste último, João Azevedo - que requereu ao tribunal que seja feita uma perícia ao aparelho do seu cliente -, em causa está "prova proibida" e, por isso, todos os atos ocorridos no inquérito após esse momento são nulos. Tal poderia significar a absolvição quer de Aníbal Pinto quer de Rui Pinto.
Os juízes deram dois dias úteis ao Ministério Público e à defesa do mentor do Football Leaks para se pronunciarem, interrompendo as alegações finais do julgamento, numa altura em que só falta o advogado de Rui Pinto apresentar as suas conclusões. A próxima sessão está agendada para 16 de janeiro, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
Em causa está um e-mail remetido, em outubro de 2015, pelo advogado Pedro Henriques, alegadamente a mando de Nélio Lucas, então diretor-geral da Doyen Sports, para Aníbal Pinto, com conhecimento a dois inspetores da PJ. Pedro Henriques e Aníbal Pinto correspondiam-se, nessa altura, no âmbito da alegada tentativa de extorsão. Uma das mensagens conteria, segundo João Azevedo, um ficheiro de "phishing", que terá dado acesso remoto ao computador.
"[Pretendemos] demonstrar de forma inequívoca que o Dr. Nélio Lucas nunca esteve constrangido", salientou.
Contactada pelo JN, a PJ optou por não reagir à acusação, por se tratar de um caso em julgamento.
Doyen: alegação tem "caráter dilatório"
O pedido contou já com a oposição da Doyen Sports, assistente (ofendida) no processo, uma vez que, no seu entender, a alegação feita tem um "caráter dilatório". "Não se percebe concretamente que prova é que seria nula", afirmou a advogada do fundo, Sofia Ribeiro Branco, lembrando que Aníbal Pinto "nunca colocou em causa" os e-mails que trocou, em outubro de 2015, com Pedro Henriques.
Segundo o Ministério Público, Aníbal Pinto e Rui Pinto terão exigido dinheiro à Doyen Sports para que deixasse de ser publicada no Football Leaks documentação extraída do sistema informático do fundo pelo hacker autointitulado denunciante. Rui Pinto, que rejeita a intenção de extorquir, já classificou o ato de "uma infantilidade", enquanto Aníbal Pinto garantiu que sempre pensou estar a negociar, enquanto advogado, um contrato de trabalho.
Aníbal Pinto, de 61 anos, responde, unicamente, por essa tentativa de extorsão, enquanto o mentor de Football Leaks, de 34, está acusado desse ato e de mais 89 crimes informáticos. Em causa estão ataques a cinco entidades (Doyen Sports, Sporting, Federação Portuguesa de Futebol, Procuradoria-Geral da República e sociedade de advogados PLMJ), ocorridos entre 2015 e 2019.
Na quarta-feira, o Ministério Público pediu que sejam ambos condenados a pena de prisão. Já a defesa de Aníbal Pinto pugnou, no dia seguinte, pela absolvição. A de Rui Pinto alegará, à partida, a 16 de janeiro deste ano, 2023.
A decisão final será dos juízes e ainda não tem data para ser conhecida. O julgamento começou em setembro de 2020.