A proximidade entre o presidente do júri de um concurso para a carreira de especialista de Polícia Científica e uma das candidatas causou mal-estar entre avaliadores da Polícia Judiciária. Estes acusam o presidente do júri de falta de ética e de pôr em causa o concurso e a própria PJ, que está a averiguar o caso.
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No centro da polémica está o facto de o presidente do júri se ter apresentado, no dia 31 de julho, no Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais (IPJCC) para assistir às provas físicas do concurso, acompanhando uma candidata (já técnica superior da PJ) que só ia realizar os exercícios no dia seguinte, 1 de agosto.
"É certo que, se for permitida aos candidatos a assistência às provas físicas antes do dia da sua realização, aqueles que já forem funcionários desta Polícia terão inegável e indevida vantagem em relação aos restantes", lê-se numa denúncia, a que o JN teve acesso, assinada por um dos avaliadores daquela prova de aptidão física.
Na denúncia, dirigida à Direção de Serviços de Planeamento, Qualidade e Avaliação, o inspetor acusa também o presidente do júri de, já no dia da prova, não esconder o seu "favoritismo" pela candidata quando a mesma era bem sucedida nos exercícios: "Alardeava, sem qualquer tipo de pudor, um comportamento ostensivamente exultante, com notória expressão física, próprio de adepto de futebol", afirma o denunciante, considerando que aqueles comportamentos do presidente são "desprovidos de qualquer noção de ética" e denotam a ausência de qualquer preocupação com a imagem da PJ.
Candidata acusada de bizarria
Além de lamentar o "acesso prévio" da candidata às provas "pela mão do presidente do júri", o queixoso também condenou o comportamento alegadamente "desadequado e bizarro" da candidata, "comportando-se como se quissesse mostrar aos restantes candidatos que já era da casa, que conhecia bem as instalações do IPJCC, que tinha uma grande familiariedade com os funcionários, incluindo com os avaliadores". Refere, por exemplo que, "durante as provas, a mesma fez questão de tratar os avaliadores por 'tu', num esforço por transmitir um tom de familiaridade que não existe".
Tais comportamentos, afirma o denunciante, foram "percetíveis por toda a equipa de avaliadores" e pelos candidatos, tendo posto em causa a "idoneiedade do concurso, dos avaliadores do mesmo e da própria PJ". "Não pode deixar de ser considerado uma forma de pressão inadmissível sobre os avaliadores. (...) Não podem deixar de nos suscitar um profundo sentimento de indignação e vergonha os comportamentos relatados", alegou o signatário da queixa, que dirige uma equipa de avaliadores e que, na denúncia, indicou mais quatro testemunhas.
No texto, de 22 de agosto, o inspetor responsável diz também não estar disponível para voltar a avaliar provas físicas de qualquer concurso em que ambos (o presidente do júri e a referida candidata) tenham qualquer tipo de intervenção.
Contactada pelo JN, fonte oficial da Polícia Judiciária esclareceu que este órgão de polícia criminal mandou "instaurar uma averiguação" ao caso e que a candidata, que passou na prova física, foi entretanto "excluída do procedimento concursal, por não ter tido aproveitamento numa das suas fases".