Roubavam dinheiro em Portugal e Espanha com e-mail falsos do Novo Banco. Verbas circulavam por cúmplices do branqueamento do tráfico de diamantes.
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A rede de tropas e ex-comandos suspeita de usar aviões militares para traficar diamantes, ouro e droga, entre África e a Europa, que foi desmantelada pela Polícia Judiciária (PJ), também se dedicava a assaltar contas bancárias de particulares, tanto em Portugal como em Espanha, roubando dados de clientes através do método conhecido como "phishing". As verbas roubadas circulavam pelas contas dos mesmos testas de ferro usados para branquear o dinheiro do tráfico dos diamantes.
Ontem, o juiz Carlos Alexandre decidiu colocar dois dos 11 detidos em prisão preventiva.Entre eles está Paulo Nazaré, o ex-comando tido como o líder da rede. Um candidato a GNR detido, assim como um PSP e dois militares foram suspensos de funções. De acordo com informações recolhidas pelo JN, Paulo Nazaré diversificou a atividade depois de ter deixado a vida militar, em 2018, após uma última missão da ONU na República Centro Africana. Wilker Rodrigues, tido como um dos seus homens de confiança, criou um plano para sacar dinheiro de contas bancárias.
A investigação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, apurou que Wilker já participava na lavagem dos ganhos obtidos com os diamantes, pois montara uma rede de testas de ferro e e usava as suas contas bancárias. Isto ainda antes de o líder começar a fazê-lo através da aquisição de moeda virtual.
E-mails do Novo Banco
O plano passava por enviar e-mails em tudo semelhantes aos do Novo Banco para clientes. Na mensagem eletrónica, os criminosos faziam-se passar por funcionários do banco e pediam o código secreto de acesso ao homebanking. Dezenas de pessoas caíram na burla eletrónica e acabaram com as contas esvaziadas por Wilker Rodrigues.
O dinheiro das vítimas circulava depois por outras contas de membros da rede e seria divido entre eles. Paulo Nazaré receberia também uma percentagem. Foram refenciadas verbas provenientes de contas em Espanha, pelo que naquele país foi também aberta uma investigação.
As autoridades portuguesas detetaram igualmente várias transferências de dinheiro das burlas para o Brasil, onde Wilker Rodrigues tinha contactos. Também foram descobertas ligações deste suspeito a Inglaterra e Dubai, locais por onde poderá ter circulado algum dinheiro.
Noutros casos, os indivíduos levantavam dinheiro proveniente dos crimes em caixas multibanco. Nas interceções telefónicas efetuadas pela PJ, alguns arguidos, conversando entre eles, explicam ter usado máquinas multibanco especiais que permitem levantar dez mil euros por dia.
Pormenores
Denúncia
Em janeiro de 2020, um interprete contratado pelas Forças Armadas denunciou que Paulo Nazaré tinha adquirido pedras preciosas na República Centro Africana. Ficou furioso por não ter recebido uma comissão de 20% sobre um negócio que envolveu um capitão dos Comandos, também arguido neste processo.
Discoteca
O advogado que foi detido nesta operação também é gerente de uma discoteca, situada na zona de Alcântara, em Lisboa. É suspeito de ter ajudado a rede no branqueamento.
Sem conhecimento
Tanto Marcelo Rebelo de Sousa, como o primeiro-ministro não foram informados pelo ministro da Defesa da denúncia que pendia sobre militares em operações da ONU.