Um contabilista cadastrado da Póvoa de Varzim estava no centro de uma rede de fraude fiscal, burla qualificada e branqueamento, envolvendo um esquema internacional de falsos investimentos em criptomoedas, que lesou cerca de 300 pessoas em toda a Europa. A Polícia Judiciária (PJ) do Porto deteve três pessoas, suspeitas de serem "recetadores digitais" de milhões de euros provenientes do crime.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN, o contabilista e os dois cúmplices montaram nos concelhos da Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Porto - onde viviam - um centro logístico que controlava contas bancárias, "mulas", um pouco por toda a Europa.
O esquema tinha várias etapas. Num primeiro tempo, eram praticadas as burlas. As vítimas, essencialmente francesas, eram aliciadas, através de telefonemas ou propostas online, a investir em criptomoedas. Também eram propostas aplicações financeiras ou burlas ao consumo. Os criminosos acabavam por ficar com o dinheiro, que ia para as contas bancárias controladas pelo trio português.
A investigação ainda vai apurar se o contabilista e os cúmplices também tinham um papel ativo nas burlas ou se se limitavam a lavar o dinheiro.
Os detidos usavam depois o dinheiro das burlas para adquirir criptomoedas nos mercados internacionais.
Essas criptomoedas eram "vendidas", por verbas acima do valor do mercado, aos indivíduos que tinham praticado as burlas. O dinheiro ficava assim digitalmente branqueado e podia ser convertido em dinheiro real.
"A organização estabelecia todo um circuito bancário cuja única finalidade consistia em apenas servir de veículo para as rápidas transferências de montantes ou vantagens provenientes da prática de ilícitos criminais e sua posterior apropriação, sendo igualmente utilizadas nesse sentido plataformas de apostas online e a aquisição de ativos digitais, os quais eram posteriormente vendidos, recebendo novamente os fundos já em moeda fiduciária", explica a PJ.
Para já, a investigação conta com 15 arguidos, mas a análise da documentação e material apreendido ontem nas 23 buscas poderá fazer aumentar o número de suspeitos. Os detidos vão hoje ser interrogados no Tribunal do Porto.
ATM de criptomoeda
Os inspetores da PJ apreenderam uma máquina multibanco de criptomoeda que estava na posse dos arguidos. A máquina converte dinheiro digital em virtual e vice-versa. Há poucas ATM deste tipo em Portugal.
Contabilista preso
O contabilista da Póvoa de Varzim, de 55 anos, saiu da cadeia em 2020. Esteve preso por burla tributária. Suspeita-se que terá começado o esquema de lavagem em finais do ano seguinte.