O youtuber João Barbosa, mais conhecido como Numeiro, voltou esta semana a publicitar a casa de apostas ilegal "Bettilt" nas suas redes sociais por via de um passatempo no Instagram, através do qual pretende oferecer três iPhones 12 Pro aos seus seguidores.
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Esta não é a primeira vez que o conhecido youtuber, com 309 mil fãs só naquela rede social, se associa a este operador de jogo ilegal, com o objetivo de levar os seguidores a apostar, mas também a aumentar a visibilidade e os ganhos da marca. Além da "Bettilt", já antes, e no Telegram, Numeiro tinha publicitado a "1XBET", entretanto encerrada.
Para se habilitarem ao sorteio de um dos três aparelhos, os participantes têm de cumprir três passos. Um deles implica seguir a conta pessoal do youtuber naquela rede social, mas também o perfil da "Bettilt", uma casa ilegal de apostas online que não está autorizada em Portugal e que, por isso, não consta no site do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ), responsável por regular as casas que atuam no universo das apostas no nosso país.
A parceria entre o youtuber, que o JN tentou contactar esta manhã sem sucesso, e o operador ilegal de apostas surge meses depois de Numeiro ter encerrado o negócio das apostas desportivas que detinha e através do qual vendia prognósticos de futebol a troco de centenas de euros. Na altura, o youtuber foi acusado nas redes sociais de fraude e o negócio acabou.
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Numeiro não é, no entanto, caso único no que toca à promoção desta casa de jogo ilegal, em particular, mas é dos criadores digitais com mais influência na Internet. Também os youtubers Alexandre Santos, Cardoso ou iRubenEx já fizeram publicidade alusiva à "Bettilt", em moldes idênticos, ou seja, recorrendo aos sorteios nas redes sociais.
SRIJ com dificuldade em atuar
Apesar de garantir que está a combater não só a oferta de jogo por parte de operadores que não estão legalmente autorizados a explorar jogos e apostas online em Portugal, mas também a publicidade que é feita a esses operadores, o regulador admite que tem tido dificuldades em atuar.
Ao JN, este organismo, pertencente ao Turismo de Portugal, escuda-se no argumento da "multiplicidade de meios que são utilizados para a divulgação das mensagens publicitárias ilegais", como é o caso das redes sociais, para não intervir mais. "Apenas com a colaboração da comunidade, é possível combater esses comportamentos", afirmava, em abril, ao JN o SRIJ.
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Publicidade à "Bettilt" em táxis
As ações publicitárias à "Bettilt" não são novas e nem sempre se restringiram à Internet. Em fevereiro de 2019, por exemplo, o SRIJ recebeu várias denúncias sobre a circulação de táxis, em Lisboa e no Porto, que ostentavam nas portas laterais publicidade a este operador de jogo ilegal.
Na missiva que acabaria por enviar, na altura, ao presidente da Federação Portuguesa do Táxi, o regulador solicitava a intervenção daquela entidade junto das empresas e dos prestadores do serviço de táxi para que as promoções à "Bettilt" fossem removidas.
O SRIJ alegava que a atividade desenvolvida por esta casa de apostas em território nacional era "ilegal e penalmente sancionada pelo artigo 49.º do RJO (Regime Jurídico e Apostas Online), bem como por outros ilícitos que lhe estão associados relativos ao incumprimento dos direitos dos jogadores, à desproteção dos consumidores (em especial os mais vulneráveis, menores ou propensos a adições), branqueamento de capitais, evasão e fraude fiscal".
Inquérito em curso
Na sequência de uma queixa relativa a esquemas praticados por influenciadores digitais ligados às criptomoedas, às apostas desportivas e aos mercados financeiros, o Ministério Público abriu em março deste ano um inquérito que, sabe o JN, ainda se encontra em investigação. A PGR nunca especificou se a participação em causa seria contra Numeiro ou contra o youtuber Windoh, envolto, na altura, numa acesa polémica por causa de um curso sobre criptomoedas que vendeu a 400 euros e que acabou exposto na Internet por um hacker.