Hacker RedLive13 promete continuar a expor youtubers portugueses sem medo de represálias
O hacker RedLive13, que pirateou um dos cursos de criptomoedas do youtuber Windoh, com o objetivo de expor aquilo que garante ser uma "burla", não teme ser intimidado ou alvo de represálias depois da denúncia.
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Em entrevista ao JN, o streamer de 21 anos diz que o objetivo não foi desacreditar publicamente um dos mais famosos influenciadores do país (atualmente com mais de 1,74 milhões de seguidores só no YouTube), mas sim agir em nome do interesse público por existirem youtubers a enriquecerem com alegadas burlas. "Só vou parar [de expor youtubers] quando realmente for feita alguma coisa", assegura. O custo de frequentar a formação era de 400 euros.
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Até agora, RedLive13 garante que não foi contactado por Windoh ou por outros influenciadores a quem costuma apontar críticas, mas não teme que isso venha a acontecer.
"Talvez tenham medo de mim, virtualmente. Eu não estou sozinho. Caso eles tentem abafar a situação, vai haver muita gente a apoiar. Se não fosse eu, mais tarde ou mais cedo aquilo ia ser revelado", afirma, deixando um lamento: "Existem influenciadores que me apoiam, mas têm medo dos processos. Se calhar eu é que vou perder no final disto tudo, mas, mesmo assim, quero que o pessoal abra o olho".
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RedLive13, cuja identidade prefere manter no anonimato, explica que decidiu hackear o curso de criptomoedas em causa depois de ter detetado "falhas de segurança enormes" no website da empresa "Black Network", de que Windoh é sócio.
"Eles estão a abusar da falta de informação das pessoas sobre estes cursos", assegura. E vai mais longe: "Esse pessoal [youtubers] nunca investiu em mercados financeiros e não tem conhecimento algum de criptomoedas".
O youtuber que chegou a ser identificado, em abril do ano passado, pela Polícia Judiciária por invadir aulas na ferramenta virtual Zoom e publicá-las no YouTube refere que o conteúdo do curso de Windoh exposto através de um vídeo no YouTube é "retirado de várias fontes gratuitas da Internet", como a Wikipédia.
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Negócio assenta nos investimentos
Sob a promessa de que irão enriquecer e ter um estilo de vida luxuoso como o de muitos youtubers, muitas pessoas, entre as quais jovens e menores de idade, acabam por fazer avultados investimentos. No entanto, são vários os relatos de quem perdeu dinheiro e saiu lesado de negócios que envolvem criptomoedas ou mercados financeiros como o Forex (mercado de divisas estrangeiras).
Sobre este ponto, RedLive13 acrescenta que, em alguns casos, há youtubers a lucrar também com as comissões das corretoras que publicitam e com o acompanhamento técnico dentro da comunidade. E chega mesmo a ser taxativo: "É dessa maneira que eles [youtubers] alcançam a vida luxuosa que têm, desde carros, imobiliário, tudo o que eles ostentam no Instagram. Não foi com redes sociais ou com patrocínios".
RedLive13 critica ainda a incapacidade revelada pela justiça portuguesa ao lidar com alegados esquemas fraudulentos envolvendo alguns dos mais populares influenciadores digitais portugueses. "A nível de justiça, em Portugal, estamos muito mal. Esse pessoal [youtubers] consegue sempre passar por cima", disse.
Windoh nega burlas
Num vídeo sem direito a comentários, publicado esta quarta-feira no YouTube e que conta com mais de 400 mil visualizações, Windoh reagiu à polémica, tentando "explicar da maneira mais sincera, honesta e transparente possível" o seu lado da história.
Diogo Figueiras refuta que esteja a esconder algo e classifica as acusações de burla de "rumores". "Tenho o meu passado na Internet. A minha vida é pública bem como as minhas empresas. Todos vocês podem confirmar os factos", assegura.
Sobre o curso de criptomoedas a 400 euros, que contabilizou 22 inscritos, o youtuber reconhece que o valor foi "excessivo". Assevera, no entanto, que todos os que o compraram serão reembolsados e que tenciona em breve disponibilizá-lo de forma gratuita a quem estiver interessado.
"Eu tenho muito orgulho naquilo que construí e [é algo que] não pode ser deitado para baixo do dia para a noite porque alguém disse algumas blasfémias", afirma, sem nunca pronunciar o nome de RedLive13.
https://www.youtube.com/watch?v=4qVUG_h9JXk
Ministério Público e Polícia Judiciária investigam esquemas
Questionada pelo JN, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou esta quinta-feira a receção de uma participação relacionada com a "matéria" e que foi instaurado um inquérito, "o qual é dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa".
A PGR não especificou, no entanto, se a participação em causa é contra o youtuber Windoh ou contra Numeiro, outro youtuber que tem sido acusado de burlas, nomeadamente por parte do youtuber Hugo Medeiros, mais uma voz crítica à atuação de alguns influenciadores.
Fonte da Polícia Judiciária (PJ) disse também esta quinta-feira ao JN que o assunto mereceu "a devida atenção" e que a polícia vai agir em conformidade, se assim se justificar.
12 mil pedem investigação
Uma petição, que até à manhã desta quinta-feira contava com mais de 12 mil subscritores, solicita à PJ e ao Supremo Tribunal de Justiça que investiguem os "esquemas ou pseudo-negócios" praticados por alguns influenciadores digitais.
Youtubers publicitaram páginas ilegais de apostas
Em 2019, uma reportagem da "Rádio Renascença" indicava que mais de uma dezena de youtubers portugueses, incluindo os mais populares em Portugal, promovia sites de apostas online sem licença para operar em território nacional.
Questionado na terça-feira pelo JN sobre o assunto, o Serviço de Regulação e Inspeção do Jogo, que à época garantiu estar a atuar, nada disse até agora sobre o que foi feito em concreto.