Fim. O Portugal invicto e calculista transformou-se no Portugal perdido, esbracejante, sem alma. Fomos Portugal até onde soubemos, mas Espanha foi a campeã europeia durante 90 minutos. Encantou-nos com um meio-campo mágico.
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É a primeira vez. E por isso custa sempre mais. O minuto 63 entrará para a História como o momento que marca a primeira despedida de Portugal de um Mundial de futebol nos oitavos-de-final. Em 1966, porque não havia "oitavos", saltámos da fase de grupos para os "quartos". Em 2002, baqueámos nos preliminares. Adiós selecção.
Carlos Queiroz, que sonhava com o melhor Portugal de sempre frente a uma Espanha próxima da melhor forma de sempre, resistiu 19 jogos sem conhecer a derrota. Desde 18 de Novembro de 2008 que os Navegadores batiam no peito de orgulho. E havia um em especial. Eduardo, muito mais do que mãos de tesoura, Eduardo, mãos de betão, susteve a jabulani fora do seu reduto durante 332 minutos. David Villa, o franzino asturiano, fechou-lhe na cara o livro dos recordes.
A caminhada lusitana foi pragmática. Não começámos com o pé direito, frente a uma batalhadora Costa do Marfim. Nulo. Voltámos a empatar sem golos, mas agora com o general Brasil. E, quando nos calhou em sorte a Coreia do Norte - e pelo menos esse gostinho ficará, talvez só esse - protagonizámos a maior goleada da prova até ao momento. Fomos ditadores. Mas o cerco apertou. "La Roja", a equipa campeã da Europa que até tinha começado este Mundial a mancar, após uma derrota com a Suíça, atirou às malvas a diplomacia de uma cimeira ibérica e desembainhou a bandarilha, toureando aqueles que sonhavam com uma faena à portuguesa. Prémio de consolação ou não, cada um dos 23 jogadores lusitanos levará para casa cerca de 38 mil euros.
Ronaldo, tão temido antes do jogo pelos defesas espanhóis, provou, afinal, que não faz mal a uma mosca, mesmo àquelas que o conhecem de gingeira. E o capitão português despede-se do Mundial com um golo marcado e com uma declaração polémica (e infeliz) sobre as opções de Carlos Queiroz.
Fábio Coentrão, o primeiro jogador português a recolher, cabisbaixo, aos balneários depois do Cabo das Tormentas no Estádio Green Point, foi provavelmente o único dos Navegadores a levar bússola para o jogo de ontem. Mas ele sozinho não conseguiu segurar o barco. Próxima paragem: Lisboa.