A 16.ª edição do festival Sudoeste terminou com 31 mil pessoas a dançar ao som do dj francês David Guetta. Antes, uma muito enérgica Jessie J conquistou o público com a frescura da sua música pop.
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David Guetta, já considerado o dj residente do festival da Zambujeira do Mar, conseguiu a proeza de reunir em frente ao palco principal as 31 mil pessoas que se encontravam no recinto. "Sudoeste, estou tão feliz por estar de volta", gritou, quando já os corpos se movimentavam freneticamente.
"Titanium", "Love is gone" ou "Louder (Put your hands up), qualquer uma delas surte o mesmo efeito junto do público. Há foguetes, chamas em palco, fumos, Guetta em cima da mesa, a bater palmas, a puxar pelas massas. O francês parece uma espécie messias, aquele que todos queriam ver, ouvir, viver neste festival.
Antes, os ânimos tinham aquecido com Jessie J, que se estreou nos palcos portugueses este domingo. A cantora britânica, novo fenómeno da pop, provou que a fama de que goza não é obra do acaso.
Agarrou a plateia com o seu primeiro single, "Do it like a dude", recebida entre gritinhos, e "Who"s laughing now". É difícil descolar os olhos de Jessie J, que à versatilidade da voz - que se estende muito além dos padrões da pop - junta uma postura enérgica e atrevida, com o corpo a contorcer-se entre piruetas (o público masculino não desgruda o olhar dos micro-calções que tem vestidos).
A interação com a plateia é uma constante entre canções. "Têm de mostrar-me que conseguem cantar bem alto. Mesmo tu, com o chapéu de cowboy", atirou, atenta, a caminho de "Stand up", entrecortada por "One love", de Bob Marley. E o público mostrou-se à altura.
"Climax", de Usher, também foi interpretada em palco. Uma canção que não foi escrita por Jessie mas que poderia ter sido, conforme a própria explicou na introdução ao tema. "Never too much", de Luther Vandross, recorda-lhe a infância em família, e "Abracadabra" a soar na Herdade da Casa Branca.
"Nobody"s perfect" faz a delícia dos fãs, que entoam emotivamente o refrão. No recinto, há muitos pais a partilhar o momento com os filhos, demasiado novos para se aventurarem neste universo dos festivais sem os progenitores.
O percurso da cantora na indústria da música é relembrado antes de se atirar a uma sentida "Who you are" e "Price tag", uma das mais ouvidas na rádio, é recebida com enorme excitação pelos fãs, completamente rendidos à cantora de 24 anos.
"LaserLight", com créditos partilhados com David Guetta, põe todos aos saltos, como se, por momentos, tivéssemos sido teletransportados para uma discoteca.
"Obrigada por serem um público incrível", diz antes de "Domino", a música que foi interrompida porque a cantora britânica se apercebeu que na plateia estavam dois rapazes à bulha. Depois de lhes dar um raspanete - e de dizer que estava de olho neles - os primeiros acordes de "Domino" ouviram-se outra vez, e seguiu a festa até Jessie J abandonar o palco, deixando para trás muitos sorrisos estampados no rosto dos fãs.
Com muito rock nas guitarras, os The Vaccines tentaram aquecer o final de tarde gelado que se sentia na Herdade da Casa Branca. Tem faltado rock por estas bandas e os britânicos fizeram esquecer isso, com estilhaços sonoros como "Wreckin' Bar" ou "Norgaard", canções curtas e direitas ao nervo.
Na Zambujeira do Mar, o quarteto liderado por Justin Young aproveitou para mostrar "No hope" e "Teenage icon", duas das canções que integram o novo disco da banda, que deverá chegar às lojas em setembro.
Os irlandeses Two Door Cinema Club revelaram-se um fenómeno de sucesso entre o público português, culpa, quiçá, de terem emprestado "I can talk" a uma campanha publicitária nacional. Gozaram de maior audiência do que os Vaccines e meteram a juventude que ali estava a pular e a debitar a letra de grande parte das canções que compunham o alinhamento.
"É bom estar de volta a Portugal. É sempre divertido vir cá", disse Alex Trimble. Há miúdas a dançar energicamente às cavalitas de amigos ou namorados em "Something good can work", mas "Come back work" ou "What you know" fazem igual sucesso junto do público.
A banda tem disco novo a caminho, com data de lançamento prevista para a rentrée, e deu um cheirinho do que se pode esperar com "Wake up" e "Settle". Na despedida ficou a promessa de um regresso para breve, já com o novo trabalho para apresentar na íntegra.
Os californianos Best Coast, os primeiros a atuar, difundiram um indie rock veraneante e algum surf nas guitarras, o sol entornado no lado esquerdo do palco principal.
A vocalista Bethany Cosentino revelou-se uma surpresa sexy, vestido negro a envolver o corpo. Nos melhores momentos lembravam umas Breeders. "Tocam todas as músicas com os mesmos três acordes", criticou Sérgio Coelho, óculos moscardo na cabeça e 18 sandálias azuis (oferecidas pelos patrocinadores) acondicionadas no casaco.
Pela edição deste ano do festival passaram 135 mil pessoas, menos 40 mil que no ano passado. Tais números confirmam uma evidência: este ano o festival recebeu muito menos gente. O cartaz teve menos nomes capazes de chamar multidões - é essa a explicação óbvia. É certo que há muita gente que vai ao Sudoeste pela diversão e que remete a música para segundo plano, mas também não deixa de ser verdade que uma programação mais apelativa seria suficiente para ter chamado muito mais público.
* com Cristiano Pereira