Manuel Sampaio Pimentel: "Se Sócrates e Passos Coelho fossem o Ronaldo e o Messi da política, estávamos safos"
Flash interview com Manuel Sampaio Pimentel, 40 anos, vereador da Câmara Municipal do Porto
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Quem fala melhor espanhol: Sócrates ou Ronaldo?
Nem um nem outro fala espanhol. Ainda assim, parece-me que o português de Sócrates está mais próximo do de Vasco Lourinho do que o de CR.
A auto-estima nacional depende mais do capitão da selecção do que do capitão do Governo?
A auto-estima é um sentimento individual, não 'colectivizável'. Depende, apenas, da conjugação de três factores: obtenção dos objectivos propostos, dificuldade dos mesmos e impacto que têm na vida da comunidade. Quanto mais, mais difíceis e maior repercussão nos outros, maior a auto-estima.
Ronaldo disse anteontem que que se “sente melhor do que há três semanas”. Também para ele o mundo terá mudado em 15 dias?
Sim, mas no caso de Ronaldo, a justificação é mais do que razoável. Enquanto Sócrates deprime com as agências de rating, Ronaldo transfigura-se com uma representante russa de uma agência de modelos. É tudo uma questão de agências mas há umas que mudam mais o mundo do que outras...
Disse ainda, citando o holandês Ruud van Nistelrooy, que “os golos são como o ketchup, quando aparece vem todo de uma vez”. Os impostos caberiam na mesma analogia?
O drama é que há e haverá sempre mais impostos do que Ketchup.
Ronaldo garantiu que ele e Messi não são rivais. Serão eles o Sócrates e Passos Coelho do futebol e ainda acabam a dançar o tango?
Se Sócrates e Passos Coelho fossem o Ronaldo e o Messi da política, estávamos safos. O problema é que estamos perante um veterano que passou ao lado de uma grande carreira e uma promessa que ainda não se afirmou. Isto já para não falar no Senhor que se esqueceu do que fazer com a má moeda...
As competições internacionais aparecem sempre no momento certo para o Governo?
Sim. Por uma simples razão: nestes casos tem uma justificação plausível para nada fazer, a qual, ainda por cima, é aceite pela generalidade da turba. O que nao acontece nos restantes dias do calendário.
Se a selecção ganhar hoje contra a Costa do Marfim, os portugueses comprenderão, por exemplo, as SCUT, ou deixam só de ter tempo para contestar?
As SCUT não têm razão de existir. As auto-estradas têm que ser pagas: a dúvida é se por todos, incluindo por quem não conduza ou não as use, ou se apenas pelos seus utilizadores. Eu defendo o princípio do utilizador pagador.
Um estudo do INE estabelece uma relação entre o índice de confiança dos consumidores e a prestação da Selecção nas competições internacionais: a confiança aumenta quando a Selecção ganha. É assim tão fácil driblar a ira do portugueses?
Os portugueses - conceito cada vez mais indeterminado - gostam de ser driblados; mais do que gostar, precisam. Sempre encontram justificação fácil para a vitimização colectiva (prática que, a ser desporto, nos guindaria, no mínimo, ao podium mundial).
Há 70 jogadores a jogar pelas Selecções de países que não são os seus de origem. Imagina que no futuro possa haver pessoas a naturalizarem-se portugueses só para poderem integrar o Governo ou esse jogo não é tão apetecível?
Esse jogo, a ser apetecível, sê-lo-ia sobretudo para todos nós (os tais portugueses). Está visto que com autóctones a coisa não vai lá...
Portugal pode dar-se ao luxo de parar hoje duas horas para ver o jogo? A Câmara do Porto vai parar?
A Câmara do Porto não estará nem tão parada como estiveram as obras deixadas pelo PS no Túnel de Ceuta e em Carlos Alberto, por exemplo, nem tão veloz quanto a passagem de Elisa Ferreira pela cidade.