Mais de quinhentos anos depois, o Mundo volta a ser disputado por Portugal e Espanha, que esgrimem hoje (19.30 horas, RTP1 e Sport TV), no Estádio Green Point, na Cidade do Cabo, por um lugar nuns quartos com vista para as meias-finais.
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De um lado Queiroz e Cristiano Ronaldo, do outro Del Bosque e David Villa. Os seleccionadores, as estrelas e os outros jogadores que transportam a esperança de um duelo ibérico que se joga ao início da noite de hoje, nas coordenadas dos Descobrimentos. Chegou a hora de alguém ir para casa, ao cabo de 90 ou 120 minutos de uma partida que até pode ser decidida por grandes penalidades, se tudo estiver empatado no final do prolongamento.
Quando se desenhou o sorteio do Campeonato do Mundo, todos queriam evitar a Espanha, campeã europeia em título. Cumprida a fase grupos, é notório que os Navegadores viajam numa boa onda e já mostraram bem mais do que vizinho ibérico. Foi aqui, na Cidade do Cabo, que os portugueses dizimaram a Coreia do Norte. É sempre um excelente cartão-de-visita, no regresso Estádio Green Point, mas num quadro com matriz diferente. Desta vez, não se pode arriscar tudo, nem Carlos Queiroz irá fazê-lo, porque o mais pequeno erro pode ter como consequência o fim da aventura sul-africana.
Quando, em 1494, os reinos de Portugal e Espanha celebraram o Tratado de Tordesilhas, os lusos ficaram com via verde para navegar no Atlântico Sul e continuar a desbravar as águas rumo ao Oriente. Desta vez, a batalha pelos quartos no Mundial não será decidida por um tratado. Terá de ser jogada em campo, na luta corpo-a-corpo, com rigor, intensidade e inteligência táctica. E, no que ao futebol diz respeito, Portugal já provou, neste torneio global, que pode bater-se de igual para igual com qualquer adversário. É seguir os meridianos da História e prolongar a aventura em África.
A força de Portugal tem-se baseado na consistência defensiva. Ainda ninguém bateu o guarda-redes Eduardo neste Mundial. É claro que a turma das quinas terá de marcar na baliza de Iker Casillas. E, até agora, os golos apareceram todos de uma só vez, sete, na goleada à Coreia do Norte. É preciso mais. E aqui entram os homens do ataque, com destaque para Cristiano Ronaldo, um ídolo madrileno mortinho por mandar os companheiros do Real Madrid de volta para Espanha. Simão Sabrosa deve acompanhar CR7 na frente, mas as dúvidas são muitas. Pepe ou Pedro Mendes? Até mesmo a inclusão de Deco, se o técnico resolver colocar a equipa a jogar em 4x4x2. Não seria a primeira vez...
Independentemente de quem jogar, importante mesmo é o facto de Carlos Queiroz ter revelado grande ambição na antecâmara do jogo. É que só um Portugal valente poderá marchar em frente na competição e mandar o vizinho ibérico para a península.