Não aceita sequer equacionar um "plano B", de Governo minoritário, embora não o rejeite. Não se desvia do objectivo para as legislativas: maioria absoluta do PS. Em entrevista ao JN, José Sócrates assume que o combate à crise reclama pragmatismo. E acusa o PCP de radicalismo de linguagem, que fomenta agressões físicas como a sofrida por Vital Moreira.
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As sondagens atribuem-lhe uma vitória eleitoral, mas não o que tem pedido, uma maioria absoluta. Segundo a publicada pelo JN, 54% dos portugueses não acreditam que outro partido conseguisse melhor desempenho no Governo. Isto ao mesmo tempo que a sua popularidade cai. Como olha para esta realidade?
É compreensível a preocupação com as questões de governabilidade, porque o País está a fazer face a uma situação muito difícil. O País, a Europa e o mundo. O trabalho político que temos pela frente é o de fazer face à maior crise económica dos últimos 80 anos. Para isso, as pessoas sabem que devem ter um Governo forte. A última coisa de que o país necessita é somar uma crise política a uma crise económica. Mas insisto num ponto: a melhor forma de resolver a questões de governabilidade e de estabilidade é uma maioria absoluta do PS. O que as sondagens revelam é que isso é bem possível.
Vai fazer um discurso mais à Esquerda, porque os votos estão a fugir para o Bloco, ou está mais preocupado com o PSD?
Eu não adapto o discurso em função das circunstâncias. Os portugueses sabem bem qual é o rumo que proponho. Não pedimos uma maioria absoluta com o objectivo de ter mais poder, mas para servir melhor os portugueses. O País precisa de um Governo que se preocupe com o interesse geral, que não fique refém de ninguém, de um interesse particular, de interesses corporativos por mais respeitáveis que sejam.
A Esquerda está a capitalizar o descontentamento. Isso não exige "medidas", da parte do PS, para conter a tendência?
Quando um Governo faz as mudanças que fizemos, é natural que surjam descontentamentos, aproveitados por quem não quer ter responsabilidades ou não espera voltar a ter tão cedo responsabilidades de governo. Mas haverá um julgamento global. Como estaria Portugal, neste momento de grave crise, se não tivéssemos feito o que fizemos? Suponhamos que não tínhamos resolvido a crise orçamental e que tínhamos em 2008 o mesmo défice de 2005, 6,83%. Agora, estaríamos a tentar evitar um défice de dois dígitos, o que obrigaria a medidas de austeridade. A ajuda que estamos agora a dar às famílias e às empresas não seria possível se não tivéssemos posto em ordem as contas públicas.
Há uma situação nova: o descontentamento concentrar-se à Esquerda.
Refere-se ao crescimento do BE? É possível, veremos. Não desvalorizo as sondagens, mas julgo que os portugueses perceberão que o radicalismo não constrói nada. Chegará o momento em que os portugueses terão de escolher as soluções para o futuro. O voto no radicalismo é para contestar. Mas os portugueses não querem apenas protestar contra a crise, querem sair dela. O voto no radicalismo é um voto perdido para quem procura soluções para os problemas. O que o País precisa é de soluções.
Isso aplica-se também aos que dentro do PS criticam aspectos da governação, como Manuel Alegre?
Não. As críticas leais e frontais são sempre positivas e inspiradoras. Mas devem ser acompanhadas por uma proposta política, o que não tem sido feito pelos partidos à nossa esquerda. A crítica, sem propor uma correspondente alternativa que dê responsabilidade é a cedência ao mais fácil. As alternativas estão bem claras: uma protagonizada pelo grande partido da Esquerda democrática, o PS, outra pela Direita. Manuel Alegre só ajuda na diversidade do PS. Não vejo nisso nenhum embaraço para o PS.
Está tranquilo em relação a esse problema. Está completamente resolvido, não vai haver até às eleições crispação no partido?
Não houve nem há crispação interna no PS. O PS passou por um momento difícil, quando apoiou um candidato à Presidência e outro militante se apresentou às eleições. Soubemos ultrapassá-lo com respeito mútuo e sem dramatização.
Foi o senhor que o convidou.
Sim. Manuel Alegre tem o lugar à sua espera. Pertence ao PS; é este o seu espaço político. Fez já uma declaração afirmando que está fora de causa sair do partido. Registo-a com muito agrado. Só confirma aquilo em que sempre acreditei. Mas gostaria de sublinhar que desde que fui eleito secretário-geral fiz sempre um esforço para juntar toda a gente. No PS, orgulho-me de o dizer, todos tiveram a sua oportunidade, sem qualquer sectarismo. As escolhas que fiz foram sempre ditadas por critérios de mérito e nunca por critérios de alinhamento.
A presença ou ausência do deputado Manuel Alegre nas listas poderá ter impacto no resultado?
Os resultados do PS resultam sempre do contributo de todos.
Seria mais perigoso tê-lo fora…
Não vejo Manuel Alegre como estando de fora. Talvez alguma Direita tivesse tido a esperança ingénua de que poderia formar-se um partido para prejudicar o PS, uma espécie de novo PRD.
Se não tiver maioria absoluta, admite governar em minoria?
Não quero pronunciar-me sobre outro cenário que não a maioria absoluta do PS. A melhor garantia para a estabilidade é a maioria absoluta do PS.
Em nenhuma circunstância aceitaria renovar o Bloco Central, nem em situação de "salvação nacional"?
O bloco central é uma ilusão. A melhor forma de responder aos problemas do País é com uma maioria absoluta do PS. É o cenário com o qual lidarei e pelo qual me baterei. Porque esse é o meu dever. Os portugueses sabem que isso faz parte da escolha: como garantir um Governo que seja capaz de fazer face à crise, com uma orientação, um rumo, e que tenha condições para garantir a estabilidade política. Uma escolha entre quem tem uma agenda para uma governação responsável, uma visão para o País e quem só tem para apresentar ao País uma agenda negativa e as mesmas receitas falhadas do passado recente.
Num momento de tantas incertezas, não seria importante os portugueses saberem com o que podem contar, no caso de não ser alcançada maioria absoluta?
O PS assumirá as suas responsabilidades em quaisquer circunstâncias. Não sou homem de desistir, nem o PS é partido para se pôr à margem das responsabilidades.
Significa governar em minoria ou com acordo de parlamentar?
Se o PS for chamado à responsabilidade de governar, governará. Não quero é raciocinar sobre cenários abstractos, porque isso significaria enfraquecer o ponto essencial para resolver os problemas do País.
Insistimos. Admite um "plano B" - o PS não foge, admite governar. Esse cenário é concretizável, por exemplo, com um acordo de incidência parlamentar?
No momento em que começar a responder sobre o "plano B", enfraqueço o "plano A". A distância mais curta de um ponto a uma recta é a perpendicular. O caminho mais rápido e viável para a estabilidade é uma maioria absoluta do PS, que significa dar-lhe condições para responder à crise. Um Governo do PS fará o seu dever. Quem resolveu as crises do passado? Sempre o PS. Quando tivemos de tomar medidas, nunca hesitámos na defesa do interesse nacional. Orgulho-me de liderar um partido que tem essa história.