A mesa da taróloga estava pronta. Toalha vermelha, búzios, incenso e cartas. Mas o baralho era especial e as cartas com figuras bem conhecidas: José Sócrates, Cavaco Silva, Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite, Américo Amorim, entre outros.
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A "profissional" que estava de serviço - e que também é militante do Bloco de Esquerda - chamava as pessoas e quando estas retiravam uma carta para verem lido o seu futuro, a taróloga fechava a cara e nunca antevia nada de bom.
Foi desta forma que teve início a arruada do Bloco de Esquerda, ontem à tarde, na Rua de Santa Catarina, no Porto. Francisco Louçã foi calorosamente recebido por muitos transeuntes, comerciantes e simpatizantes do partido. Os comentários espontâneos fizeram rir o candidato, que também teve de se abeirar de algumas pessoas para sossegar o seu pessimismo. "Precisamos de ter força. Juntos vamos conseguir acabar com a maioria absoluta", dizia.
"Venha cá homem, para eu lhe dar um beijo", gritava uma lojista à passagem da comitiva. Francisco Louçã não a ouviu, mas a lojista não se fez de rogada e foi-se aproximando do líder. "É bem jeitoso, sim senhor", dizia numa risada, enquanto Louçã distribuía abraços e beijinhos, ora à esquerda, ora à direita, ora recuava, ora acenava às janelas, ao som de uma gaita de foles que o acompanhava.
A arruada do coordenador bloquista no centro do Porto foi aquela que, até ao momento, mais impacto teve. Animação, muitas pessoas, música, animadores de rua e um Francisco Louçã muito sorridente.
"Vou votar pela primeira vez no Bloco", disse-lhe uma mulher com pouco mais de 50 anos. "É a sério, gosto muito de si", reafirmou. A música estava num tom tão elevado que o líder bloquista teve dificuldade em a ouvi-la, mas ainda assim lá lhe deu um beijinho e disse: "Seja bem-vinda".
Mais uns passos e mais um encontro, desta vez com um militante que fez questão de se apresentar. "Estive consigo aquela vez em Lisboa...", repetia, perante o abraço forte de Louçã, que logo seguiu viagem.
Ao aproximar-se de um grupo de adolescentes, o candidato tentou abeirar-se das meninas para lhe entregar propaganda. O que se ouviu? Muitos risinhos e gritinhos de histeria. Uma delas até se foi esconder. Outra, mais despachada, agarrou no papel entregue por Louçã e sorriu. Quando este se afastou: "Ai meu Deus, ai meu Deus", disse numa voz estridente: "Vou aparecer na televisão".
Luís Fazenda acompanhou a descida de Santa Catarina, uma uma vez que se encontrava em "trânsito" para um comício em Braga, e João Teixeira Lopes, candidato à Câmara do Porto, não largou o candidato.
Um grupo com alguns idosos posicionou-se estrategicamente e aguardava pacientemente a altura dos cumprimentos. "Venho sempre ver e gosto de cumprimentar todos os candidatos", desabafava um deles.
Louçã aguardava que o sinal de passagem de peões ficasse verde para mais uns cumprimentos e enquanto isso uma senhora refilava: "Falar é fácil, depois vão para o poleiro e são iguais aos outros. É tudo muito bonito agora e depois mandam-nos à fava. Não dá para confiar em nenhum".