Irmã do rei Maha Vajiralongkorn, da Tailândia, apresentou candidatura às eleições mas irmão não gostou.
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Nasceu princesa, no conforto suíço. Estudou nos Estados Unidos e ali se apaixonou por um plebeu norte-americano. Abdicou, por ele, do estatuto real. Perdeu um filho no tsunami de 26 de dezembro de 2004, já então se divorciara, regressara à Tailândia e estreara-se no cinema. Ativista contra a droga, é viral nas redes sociais. Ubolratana Rajakanya Sirivadhana Barnavadi é o nome dela.
É irmã do rei da Tailândia e apresentou ontem a candidatura ao lugar de primeiro-ministro, nas eleições de 24 de março, contra o atual chefe de Governo, líder da junta militar que há cinco anos transformou a nação dos sorrisos numa espécie de ditadura. Ele, o rei Maha Vajiralongkorn, não apreciou. E insurgiu-se contra a "inapropriada" ousadia: nenhum membro da família real pode almejar meter-se em política.
A campanha para convencer os jovens tailandeses a recusar drogas terá aberto a mente de Ubolratana para a miséria do país fora de banguecoque. E despertado o gosto pela intervenção política. Assaz famosa, era até vista pelo povo como a mais adequada sucessora do pai, Bhumibol Adulyadej, após a morte deste, em 2016, mas os ditames da monarquia não o permitiam.
Aos 67 anos, Ubolratana não fez a coisa por menos: aceitou o convite do partido Thai Raksa Chart, que o antigo primeiro-ministro, Thaksin Shinawatra, criou para manter a chama política perante a ameaça de dissolução do seu partido tradicional, o Pheu Thai. Um primeiro-ministro reformador populista com apoio no mundo rural, odiado pelas elites, obrigado ao exílio pelo golpe militar de 2006 e que viu os aliados afastados por outros pequenos golpes até à golpada final, em 2014, liderado pelo atual primeiro-ministro, General Prayut Chan-ocha, que derrubou nada menos do que a irmã de Thaksin, Yingluck Shinawatra.
Ameaça séria
Era contra Prayut que Ubolratana quer correr. Princesa ainda que sem estatuto - num país onde os crimes de lesa-majestade, como criticar a família real, são levados muito a sério -, a irmã do rei diz-se em igualdade de circunstâncias com qualquer cidadão. "Desisti dos meus títulos de realeza e tenho vivido como uma cidadã comum".
Ou talvez não. O facto de não ter título retira-lhe a proteção da lei de lesa-majestade, mas não a condição de irmã do rei. "Quem ousaria fazer campanha contra a irmã do rei?", questiona Paul Chambers, leitor na Universidade de Naresuan, ao "The Guardian". "Ela é uma ameaça definitiva a Prayut, porque tem, aos olhos dos tailandeses, muito mais legitimidade do que tem um líder de golpe". Mas Vajiralongkorn pode ter-lhe tirado o tapete.