Após a atribuição do Nobel da Paz a três mulheres, duas liberianas e uma iemenita, as reacções já se fazem um pouco por todo o mundo. Enquanto que a maioria felicita as premiadas, há ainda aquelas que qualificam de "inaceitável" o galardão atríbuído à presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirlea.
Corpo do artigo
O principal adversário de Ellen Johnson Sirlea nas presidenciais de terça-feira, Winston Tubman, considerou, esta sexta-feira, que a atribuição do Nobel da Paz à actual presidente e candidata às novas eleições é "inaceitável" e que ela não merece o prémio.
"Sirleaf não merece um prémio Nobel da paz, porque ela cometeu violências neste país. Este prémio é inaceitável e não merecido", afirmou Tubman, dirigente do Congresso para a Mudança Democrática (CDC, na sigla original) por telefone à agência noticiosa francesa AFP.
Tubman qualificou a atribuição deste prémio como uma provocação, uma vez que aconteceu em plena campanha eleitoral e a quatro dias das eleições na Libéria, país que há oito anos saiu de sucessivas guerras civis, que causaram cerca de 250 mil mortos.
A presidente liberiana é criticada por não manter as promessas a nível económico e social e, sobretudo, por não se ter envolvido suficientemente na reconciliação do país. É igualmente acusada de ter apoiado, no início dos anos 90, o antigo senhor de guerra Charles Taylor, julgado por um tribunal internacional por crimes contra a humanidade.
Assembleia da República sem consenso
Em Portugal, também a reacção da Assembleia da República se fez ouvir, apesar de não ser consensual entre os deputados.
"A participação das mulheres nos processos de paz e segurança, na promoção da justiça, do bem-estar e do desenvolvimento da sociedade no seu todo encontra aqui expressão e esse é um grande motivo de regozijo", lê-se no voto aprovado pelo Parlamento.
A decisão do Comité Nobel da Paz 2011 consolida a abordagem do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 2000 "que chama a atenção para o papel das mulheres na paz e segurança", ouviu-se na voz de Assunção Esteves.
Após a leitura do voto de congratulação pela presidente da Assembleia da República, as bancadas do PSD, CDS, PS e a deputada do Bloco de Esquerda (BE), Ana Drago, aplaudiram de pé a decisão do Comité Nobel da Paz 2011. Francisco Louçã, bateu palmas, enquanto os deputados do PCP, do partido ecologista Os Verdes e alguns do BE ficaram sentados em silêncio.
UE salienta resolução de conflitos
Já a União Europeia (UE), que foi mencionada como uma das potenciais vencedoras do Nobel da Paz 2011, felicitou "de todo o coração" as três mulheres distinguidas esta sexta-feira com o prémio.
O prémio "é o reconhecimento do papel desempenhado pelas mulheres na resolução pacífica dos conflitos e na transformação democrática no mundo", afirmaram os presidentes da UE, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, num comunicado conjunto.
"Trata-se da vitória de uma nova África democrática e de um novo mundo árabe democrático que vivem em paz e respeitam os direitos humanos", salientaram os dois responsáveis, apelando aos líderes mundiais para "melhorarem os direitos das mulheres".
A chanceler alemã, Angela Merkel, que a revista "Forbes" considera a mulher mais poderosa do mundo, enviou saudações pessoais para as vencedoras. Esta atribuição "é um sinal muito bom", que deve incentivar outros activistas pela paz e pelos direitos das mulheres, disse Merkel disse numa entrevista colectiva.
Johnson Sirleaf, de 72 anos, economista formada em Harvard, foi eleita democraticamente Presidente da Libéria, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo em África. Em 2005, quando foi eleita, era vista como reformista e pacifista.
A activista liberiana Leymah Gbowee , também galardoada, organizou um grupo de mulheres cristãs e muçulmanas para desafiar os senhores da guerra na Libéria.
Também premiada foi Tawakul Karman, de 32 anos, que liderou a organização Mulheres Jornalistas sem Correntes, um grupo de defesa dos direitos humanos. Tem desempenhado um papel fundamental na organização dos protestos no Iémen contra o governo do Presidente Ali Abdullah Saleh.