O massacre num bar de Orlando, com 50 mortos e 53 feridos - o maior já verificado no país - fez irromper o tema do controlo de armas de fogo na disputa para a presidência dos Estados Unidos.
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Segundo a monitorização do sítio www.gunviolencearchive.org, até às 21 horas de segunda-feira tinham sido relatados e confirmados, nos primeiros 165 dias do ano, 23386 incidentes com armas de fogo (em média, quase 142 por dia), 5999 mortos e 12282 feridos.
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Chocado com o massacre de Orlando, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que esse "ato de terror e de ódio" mostra, "uma vez mais, como é fácil conseguir armas para disparar numa escola, numa casa de culto, numa sala de cinema ou num bar".
É a sexta vez este ano e a 14.ª desde que tomou posse, nas contas do diário britânico "The Guardian", que Obama vem a público falar sobre a necessidade de restringir o acesso a armas, geralmente no rescaldo de grandes ataques. O que faz soar música celestial aos ouvidos dos acionistas das fábricas de armas.
Segunda-feira, as companhias Smith & Wessan e Sturn Ruger & Co. amanheceram com as respetivas ações a valorizarem 10% na Bolsa de Wall Street. A rede global por cabo CNN assinala que o fenómeno corresponde a um pico, como costuma acontecer após os massacres.
O "The Guardian" nota que a Smith & Wessan, por exemplo, bateu o recorde de vendas no ano passado (627 milhões de dólares) e em março passado já as tinha aumentado em 61,5%. E a CNN avisa, citando analistas de Wall Street, que a valorização das cotações vai subir se a candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, mantiver o tema das restrições na disputa.
É que a corrida às armas e o interesse pelas ações dos fabricantes sobem sempre que, especialmente no rescaldo aos incidentes graves, regressa a defesa de restrições e até proibição à venda de armas - especialmente as de guerra, como é o caso da "muito popular" espingarda de assalto "AR-15" e da pistola semiautomática de nove milímetros usada em Orlando.
Nos Estados Unidos, em cujos lares se estima haver mais de 310 milhões de armas, qualquer cidadão pode comprá-las legalmente, desde que não tenha sido condenado a mais de um ano de prisão, não seja fugitivo, imigrante ilegal, nem tenha renunciado à nacionalidade norte-americana.
Isto porque aos cidadãos norte-americanos está garantido, pela segunda emenda da Constituição, de 1789, e confirmado por uma decisão do Supremo Tribunal em 2008, o direito individual à posse e ao porte de armas para sua defesa.
Alterar a emenda é tarefa homérica. É necessário que dois terços das duas câmaras do Congresso votem favoravelmente e, também, que tenham o apoio de três quartos (38) dos 50 estados da União, ou que dois terços deles convoquem uma convenção constitucional.
Em dezembro passado, o Senado norte-americano, controlado pelos republicanos, chumbou a possibilidade de dar ao FBI mais poder para controlar os antecedentes dos candidatos à compra de armas, adiando passos para as controlar.
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"O Presidente ficou frustrado, por vezes mesmo zangado, perante a inação do Congresso", comentou o porta-voz de Obama, Josh Earnest, enquanto o senador democrata do Connecticut, Chris Murphy, acusa o parlamento de "cumplicidade" pelas mortes de anteontem, "pelo seu total e inconsciente atroador silêncio".
Atroadora foi a metralha ideológica do adversário republicano de Hillary Clinton, o multimilionário da construção Donald Trump, ao defender que, se os frequentadores do bar estivessem armados, "não teríamos visto essa tragédia" e ao insistir na proibição da entrada, nos EUA, de imigrantes muçulmanos e na vigilância sobre os que lá vivem.
Enquanto Hillary promete generalizar a verificação dos antecedentes judiciais e psiquiátricos, prévia à venda de armas, Trump, que é apoiado pelo poderoso lóbi da National Rifle Association, declara que as presidenciais de novembro serão "um referendo à segunda emenda" e que ele é "absolutamente a favor do uso de armas".