Uma atriz chinesa alertou para os perigos da cirurgia plástica, partilhando com o público fotografias do nariz, danificado na sequência de um procedimento estético que correu mal. Nota: as imagens podem perturbar os leitores mais sensíveis.
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Gao Liu, cantora e atriz chinesa, estrela de filmes e programas de televisão, esteve afastada dos holofotes nos últimos meses. A ausência foi agora justificada com um "incidente cirúrgico cosmético" que a deixou com necrose no nariz (o tecido da pele morreu).
A atriz partilhou, com os cinco milhões de seguidores que acumula na rede social Sina Weibo, imagens do pós-cirurgia, reacendendo no país o debate em torno dos possíveis riscos das intervenções estéticas, extremamente populares na China, que em 2004 até criou um concurso de beleza só para pessoas submetidas a esse tipo de operações.
Gao recordou que, em outubro passado, decidiu avançar para uma operação com um cirurgião que lhe tinha sido apresentado por um amigo, para aperfeiçoar o nariz e, pensou, impulsionar a carreira. "Todo o procedimento durou quatro horas. Achei que nessas quatro horas ficaria mais bonita. Não esperava que essas quatro horas fossem o começo de um pesadelo", partilhou, adiantando que, depois da cirurgia, o nariz ficou "irritado e com formigueiro", ganhando mais tarde uma infeção que foi escurecendo a ponta e que, por fim, deixou o nariz "necrótico".
A imagem desfigurada ganhou uma proporção ainda maior: Gao enfrentou problemas de saúde mental e acabou por ser hospitalizada durante dois meses. Devido à extensão dos danos, não será possível fazer uma cirurgia reconstrutiva por pelo menos um ano, contou.
A clínica em Guangzhou onde Gao foi tratada, revelou o jornal "The Paper" com base em dados oficiais, já tinha recebido cinco multas entre março e outubro de 2020, embora as razões por detrás delas não tenham sido divulgadas. E, desde que a atriz partilhou a experiência, as autoridades de saúde locais receberam várias reclamações, estando agora em curso uma investigação à clínica.
Cirurgias populares entre jovens
Os procedimentos estéticos prevalecem sobretudo entre as camadas mais jovens do país. De acordo com uma notícia de 2019 do jornal "South China Morning Post", dois terços dos 20 milhões de pessoas que se submeteram a procedimentos no ano anterior tinham menos de 30 anos e um em cada cinco tinha menos de 21. A mesma publicação reportou na altura que muitos alunos do ensino secundário optavam por "ir à faca antes de entrarem na universidade, acreditando que isso aumentaria as suas oportunidades no trabalho e no amor".
Acontece que a crescente procura por procedimentos cirúrgicos fez com que houvesse clínicas a operarem sem certificados ou com cirurgiões não qualificados. A tal ponto que em abril do ano passado, o Governo indicou terem sido detetados "sinais de um aumento do incumprimento de regras" em todo o país, reiterando a necessidade de as operações serem realizadas por "equipas médicas com qualificação" para tal. Em 2019, segundo o "Global Times", o número de clínicas de cirurgia plástica não qualificadas ultrapassou os 60 mil, seis vezes mais o de clínicas legais.