Pela primeira vez na história da Arábia Saudita as mulheres têm direito a votar e a concorrer nas eleições autárquicas do próximo dia 12. No entanto, as candidatas estão proibidas de usar a sua imagem na campanha e de falar com homens.
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Fawzia al Harbi é uma das candidatas, mas não pode fazer campanha mostrando o seu rosto em cartazes eleitorais. Também não pode dirigir-se pessoalmente aos eleitores homens, para os convencer de que é a candidata certa. O contacto com os potenciais eleitores passa em grande parte pelas redes sociais e um site na internet.
"Durante dez anos, quando os homens começaram a votar, esperámos por esta oportunidade", disse à agência Reuters, que a encontrou numa ação de campanha num shopping de Riade. Rosto coberto pelo niqab negro. Nem um vislumbre do seu rosto. Só se vêm os olhos e as mãos.
Fawzia al Harbi aborda uma família de cinco mulheres, fala de problemas locais, dos seus planos para abrir centros familiares e melhorar serviços e os motivos que a levaram a candidatar-se. Elas ouvem e participam na discussão. Mas quando questionadas sobre se iam votar, responderam que não estavam inscritas.
Para estas eleições estão recenseados 1,74 milhões de homens e apenas 130 mil mulheres. Dos sete mil candidatos, 978 são mulheres.
Segundo analistas, a dinastia Al Saud que governa o reino não quer dividir o poder com políticos eleitos, receando campanhas agressivas ou reformas sociais repentinas. Mas os passos para a liberalização política vão sendo dados, com a pressão da classe de empresários que suporta a modernização do reino e o crescente número de mulheres com acesso ao ensino e emprego. "Os Al Saud reconhecem a necessidade de mudar. Começaram com as eleições autárquicas", refere o politólogo saudita Khaled al-Dakhil.
A Arábia Saudita é o único país que proíbe as mulheres de conduzirem e obriga a que tenham um "guardião" do sexo masculino que as pode impedir de viajar ou casar.
Deixar as mulheres participar nas eleições é "abrir a porta ao diabo", referiu o Grande Mufti, a mais alta figura religiosa do reino.