Um acordo para a continuação das conversações sobre a Ucrânia foi alcançado, esta quarta-feira, em Paris, entre Moscovo, Paris, Washington, Berlin, Londres e a União Europeia, segundo informou o ministro do Assuntos Estrangeiros russo, Serguei Lavrov. Contudo, um responsável diplomático norte-americano negou tal posição.
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"Estivemos de acordo no sentido de prosseguir as conversações nos próximos dias a fim de ver como ajudar a estabilizar e normalizar a situação e ultrapassar a crise", salientou Lavrov.
O ministro informou os jornalistas russos, após um encontro com o secretário de Estado norte-americano John Kerry, que os "EUA e a Rússia estão de acordo em ajudar os ucranianos a implementar os acordos de 21 de fevereiro", que foram assinados pelo presidente Viktor Ianukovich e os líderes da oposição ucraniana e patrocinados pelos ministros dos Assuntos Estrangeiros da Alemanha, França e Polónia. Contudo, um responsável diplomático norte-americano negou tal posição.
Entretanto, o secretário de Estado norte-americano John Kerry fez saber que "há uma série de ideias sobre a mesa para resolver as tensões na Ucrânia" e que irá consultar o presidente Barack Obama. John Kerry deverá encontrar-se, quinta-feira, novamente com Sergei Lavrov.
As conversações com Kerry foram centradas "na situação na Ucrânia e nas ações que os nossos parceiros estão a tentar aplicar via Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Conselho OTAN-Rússia e outras organizações internacionais. Estas ações não contribuem para criar uma atmosfera de diálogo de cooperação construtiva", acrescentou Lavrov.
No entanto, momentos depois das declarações de Lavrov, um responsável do Departamento de Estado norte-americano afirmou à agência France Presse que "não houve qualquer acordo na sequência desta reunião e nunca existirá [um acordo] sem uma implicação direta do governo ucraniano", investido após a destituição do ex-presidente Viktor Ianukovich.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo irá estender a ronda de contactos em Paris, tendo previstos encontros com os seus homólogos francês, alemão e polaco, que coassinaram o acordo de 21 de fevereiro com Viktor Ianukovich e com os representantes na altura da oposição ucraniana, figuras que atualmente estão no poder.
Este acordo previa importantes concessões por parte de Viktor Ianukovich, nomeadamente a realização de eleições presidenciais antecipadas até dezembro deste ano, a formação de um governo de coligação num prazo de 10 dias e o regresso da Constituição de 2004.
No dia seguinte, a 22 de fevereiro, o Parlamento ucraniano decidiu destituir Ianukovich por "abandono das funções constitucionais" e convocou eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio. O acordo assinado na véspera acabou por não ser aplicado.
Após o afastamento de Ianukovich, a crise política ucraniana acabou por ganhar novos contornos, quando as forças russas assumiram posições na república autónoma ucraniana da Crimeia, no sul da Ucrânia, movimentações que estão a provocar sérias tensões internacionais.
OTAN coopera com a Ucrânia
Por seu turno, a OTAN decidiu, esta quarta-feira, reforçar a cooperação com a Ucrânia e reexaminar aquela que mantém com a Rússia, com a suspensão de certas iniciativas comuns OTAN-Rússia, afirmou o seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen.
Entre as medidas mais imediatas está a suspensão da preparação da "primeira missão comum OTAN-Rússia", a saber o acompanhamento conjunto do navio americano que transporta as armas químicas sírias para serem destruídas.
"Isto não vai afetar a destruição das armas químicas, mas a Rússia deixará de estar presente a partir de agora", precisou Rasmussen.
"Ao mesmo tempo, queremos deixar a porta aberta ao diálogo", ficando disponíveis para realizar as reuniões" do Conselho OTAN-Rússia ao nível dos embaixadores, acrescentou.
Paralelamente, decidimos "reforçar a nossa associação com a Ucrânia e a nossa cooperação de forma a apoiar as reformas democráticas", indicou o secretário-geral da OTAN. Tal passará por um apoio maior às estruturas militares e civis da Ucrânia, um país que coopera há anos com a OTAN e participa já em muitas missões, principalmente no Afeganistão.
A OTAN vai igualmente ajudar Kiev a modernizar a sua armada," incluindo mais treinos e exercícios comuns".
Rasmussen vai receber, quinta-feira, o novo primeiro-ministro ucraniano, Arseni Iatseniouk, durante a uma visita a Bruxelas.
Interrogado sobre uma eventual adesão da Ucrânia à OTAN, Rasmussen salientou que "isso cabe aos ucranianos decidir".