Visto por cerca de 20 milhões de pessoas, o único debate entre os dois candidatos à presidência francesa foi considerado pela imprensa estrangeira como o mais agressivo de sempre no país, embora sem um vencedor claro.
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Para o diário britânico de esquerda "The Guardian", o debate entre o presidente, Nicolas Sarkozy, e o candidato socialista, François Hollande, foi "o mais agressivo, o mais violento e o mais feroz em mais de 30 anos de debates presidenciais televisivos".
Ao longo de quase três horas, os dois rivais discutiram economia, desemprego e a dívida pública, "mas foi, acima de tudo, um concurso de personalidade (...) com um nível de animosidade mal disfarçada nunca antes visto num debate do género", escreveu o jornal.
Os dois candidatos marcaram pontos, mas Hollande "parece ter conseguido destabilizar psicologicamente Sarkozy como a sua antecessora Ségolène Royal não conseguiu em 2007".
Para o jornal conservador britânico "The Telegraph", "Sarkozy falhou o golpe fatal no debate presidencial". O diário escreve que o presidente precisava de "um milagre" para dar a volta às sondagens, mas no debate, "apesar de algumas trocas brutais, não conseguiu dar o golpe fatal".
No resto da imprensa britânica, os títulos apontam no mesmo sentido: "Troca de golpes na televisão entre candidatos às presidenciais, Sarkozy luta por salvar o seu posto" ("The Independent"); "Sarkozy perdeu a cabeça em debate com Hollande", a quem chamou de mentiroso ("The Times").
Na Alemanha, a influente revista "Der Spiegel" (centro-direita) considerou tratar-se do "mais agressivo debate televisivo entre dois candidatos que a França alguma vez viu" e que "no final, para surpresa geral, Hollande conseguiu ganhar o duelo".
"Sarkozy provocou, Hollande respondeu", escreve o "Süddeutsche Zeitung" (centro-esquerda), defendendo que o ainda presidente "não atingiu o objetivo que tinha fixado" e que "Hollande, que habitualmente aparece como gentil, se mostrou para surpresa geral soberano e com resposta".
Para o diário popular "Bild", o mais lido da Alemanha, este debate não terá permitido a Nicolas Sarkozy recuperar do seu atraso nas sondagens. "É certo que Hollande não perdeu o debate. Sarkozy atacou bem, mas Hollande também se defendeu bem", escreve o "Bild".
Para o espanhol "El Pais" (centro-esquerda), "Hollande cresceu face a Sarkozy" num debate "denso, tenso e intenso, apaixonante em alguns momentos, cheio de dados e de conteúdo económico, que refletiu a diferença de estilos, soluções e visões do mundo".
"O favorito, muito sólido, sai reforçado perante um presidente muito agressivo, mas preso ao seu passado", escreve ainda o jornal, enquanto o "El Mundo" (conservador) destaca que Sarkozy "voltou a agitar o fantasma de Zapatero e o mau exemplo espanhol" e conclui que "um Sarkozy agressivo ganhou a um Hollande que se defendeu bem".
"Não foi um duelo, mas um pugilato", escreveu o belga "La Libre Belgique", sublinhando que os dois candidatos estiveram "taco a taco" e que "Sarkozy não conseguiu devorar a 'enguia' Hollande, que foi tão belicoso como o seu adversário".
Na Grécia, onde a eventual vitória de François Hollande é vista como uma porta aberta para uma mudança na política de austeridade "Merkozy" na Europa, os jornais de esquerda consideram que o debate não inverteu o clima favorável a Hollande, mas a imprensa liberal sublinha os ataques de Sarkozy contra a Grécia, considerada o anti-modelo.
Para o italiano "La Repubblica", "Hollande e Sarkozy trocaram insultos", mas o candidato socialista "conseguiu enfrentar" o Presidente.
O "La Stampa" concluiu que "não houve KO na televisão" e que "Hollande resistiu ao ataque de Sarko", enquanto o "Corriere della Sera" escreveu que "a verdadeira escolha é entre os cortes orçamentais e os impostos".
Nos EUA, o "New York Times" escreve que França se aproxima do final da campanha eleitoral "com um debata amargo", com "acusações de mentiras, calúnias e arrogância".
Sarkozy "não conseguiu a vitória clara no debate que os analistas consideravam necessária para vencer as eleições", enquanto Hollande "tentou romper a reputação de suavidade e charme" e foi um interveniente "agressivo" no debate, muitas vezes interrompendo o presidente "sem deferência e aparentemente com desdém".
O "Wall Street Journal" escreve por seu lado que os candidatos se combateram num debate de quase três horas, mas não houve um vencedor claro.