O ex-rabino principal israelita Meir Lau comparou as atrocidades na Síria à matança dos judeus na II Guerra Mundial e sugeriu que Israel deve intervir para parar o derramamento de sangue no país vizinho.
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Os comentários do rabino Israel Meir Lau, que sobreviveu ao Holocausto enquanto criança, acrescentaram uma das principais autoridades morais do país a um coro crescente de condenações da violência na Síria.
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Esta semana, dezenas de civis foram mortos por um ataque químico na Síria, que o ministro da Defesa israelita, Avigdor Lieberman, atribuiu às forças do Governo de Damasco. Lieberman disse ao jornal "Yediot Ahronot" que estava "100% certo" de os ataques terem sido conduzidos por "ordens diretas e intencionais" do presidente sírio, Bashar al-Assad, e realizados por aviões sírios.
Memórias do Holocausto, no qual foram seis milhões de judeus foram mortos sistematicamente pelos nazis e seus colaboradores, ainda estão frescas em Israel, onde está uma significativa população de sobreviventes. Os israelitas tendem a refrear-se na comparação de outros conflitos com o Holocausto.
Mas, em entrevista radiofónica divulgada esta quinta-feira, Lau quebrou este tabu e disse que os sírios estão a viver o seu próprio Holocausto.
Não se deve ficar parado perante o sangue do seu irmão
"Esta é certamente a 'Shoah' do povo sírio e não começou hoje. Desde há seis anos que a 'Shoah' está com eles", afirmou Lau, usando a palavra hebraica para Holocausto, na entrevista concedida à Rádio do Exército.
Declarando-se desconhecedor das ramificações políticas de uma intervenção na Síria, citou uma passagem bíblica, segundo a qual "não se deve ficar parado perante o sangue do seu irmão".
Explicou que esta frase não se aplica "apenas a alguém que partilhe as suas perspetivas ou o seu nacionalismo", mas inclui todas as pessoas "criadas à imagem de Deus".
Quem vai tocar as sirenes de alarme? Está a ser derramado sangue inocente. Façam alguma coisa! Parem esta matança!
Prosseguindo, questionou: "Mesmo que não tenhamos de intervir e até talvez estejamos proibidos de intervir, quem vai tocar as sirenes de alarme? Está a ser derramado sangue inocente. Façam alguma coisa! Parem esta matança!", disse Lau.
Este religioso esteve encarcerado sob condições horríficas no campo de concentração nazi de Buchenwald, na Alemanha, sendo então um rapaz, e foi um dos mais jovens sobreviventes dos prisioneiros libertados pelas tropas norte-americanas.
Chegou a ser um dos mais proeminentes líderes espirituais de Israel. Foi o líder religioso do país entre 1993 e 2003 e presidente do Conselho Yad Vashem, uma comissão de aconselhamento do memorial nacional do Holocausto. Agora é o chefe religioso de Telavive.
Israel tem estado fora dos confrontos na Síria, que já provocou cerca de 400 mil mortos. Mas tem feito vários ataques aéreos a alegados fornecimentos de armas para o Hezbollah, que tem combatido ao lado das forças do Governo de Damasco.
Israel também tem tratado vários milhares de sírios feridos nos combates e fornecido ajuda humanitária a algumas comunidades sírias próximas da fronteira, nos Montes Golã.
Ao início de quinta-feira, o chefe do memorial do Holocausto, Avner Shalev, instou o mundo a acabar com o derramamento de sangue na Síria, dizendo que a comunidade internacional deve "terminar com o sofrimento humano e dar ajuda humanitária às vítimas".